dimanche 8 décembre 2013

O Segredo do Pierrot

Com uma virada de seu lenço pardo sobre as mãos, elas tornaram-se em primavera, oferecendo botões vermelhos e amarelos à criatura miúda ao seu lado. Finalmente interrompeu sua indiferença, desviou os olhos e fitou a mão de dedos longos a rodear as flores como se deslizasse sobre uma redoma invisível. Subiu, acompanhando cada detalhe, até o rosto debotado do Pierrot, seus olhos tão azuis que só então percebeu. E viu o primeiro trincar. Ele viu seus olhos brilharem acendendo uma luz naquele abismo e uma curva delicada em seus lábios rasgar-se em um quase sorriso que lhe foi como o amanhecer. Esticou o braço em um floreio. Vencida, fechou o diário e pegou-as com as duas mãos, baixando-as em seguida até afundarem nas pregas de seu vestido, de cabeça baixa novamente, sentindo um carinho quente chovendo daquele estranho. Sorriu de novo,
para as próprias mãos, com uma gota pendendo dos cílios, não vencida - agradecida.
Quando a chuva cessou, foi-se toda tinta, o calor e os sorrisos. Lavou-se a máscara. Ela levantou os olhos e retraiu-se com a vista. A face desnuda e miserável... Do Arlequim.

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