jeudi 13 mai 2010

CRISE


Estúpido! Se existe um "Deus", então é um idiota! Brinca conosco como se fossemos nada, como se estivéssemos à disposição. Mas não vou ser palhaça, não sirvo para atriz, repudio esse humor negro. E essas falsas alegrias... É incrível como conseguem nos por exatamente onde não queremos estar (ou será que nós é que nos pomos?).
Não é irônico que cresça bem ao meu lado esse mal que tanto desprezo? Que eu conviva dia-a-dia com a personificação de tudo aquilo que combato? Não me importa mais "mudar o mundo". Tenho nojo de mim por ser quem sou. Detesto olhar para o lado e ver que tudo o que mais odeio está cada vez mais perto, e avança, como uma praga. Resistir? Ah, eu resisto. E você não faz ideia do quanto sofro com isso. A verdade é que me sinto uma hipócrita. Quando olho para as outras pessoas vejo alegria, vejo orgulho, mesmos de seus próprios defeitos. Mas eu (claro...) sempre me sinto mal. Não admito erros. Não suporto falhas. Envergonho-me de atos que não pratiquei. Arrependo-me de "crimes" que não cometi. Só por tê-los presenciado, só por saber que existem.
Como são todos mesquinhos e inúteis! Como eu daria tudo por não existir! Como é mais difícil suportar a medida que percebemos que ao nosso redor todos trocam suas máscaras despudoradamente. Ah, mas não... novamente esqueço-me de que não há 'nós'. Sou sempre eu, sempre sozinha, sempre a única. A única desocupada o bastante para parar e observar. E como é ridículo não perceberem. É tão óbvio! Por isso tanto evito e desaprovo elogios, mesmo os mais sinceros... Aqueles que os proferem nada sabem daqueles a quem se referem. Idolatram imagens, sem enxergar o quão mesquinhas são as almas por trás de toda essa maquilagem.
Desculpem-me. Nem sei o que escrevi. Tampouco vou reler... tenho medo. Só queria gritar... Mas agora eu tenho um refúgio, um lugar só meu. E a partir de hoje não gritarei mais. Meus gritos sufocados rasgarão o papel. Minhas lágrimas, forçadamente contidas, sairão pela caneta, e preencherão esses rasgos, como pequenas gotas de sangue, como se ali servissem mais do que escorrendo em minha face. Não as culpo. Eu faria a mesma escolha.

(Texto de 30/Abril/2010 - 22:13)

mardi 4 mai 2010

Devaneios de uma Noite de Apagão


         A noite está mais escura hoje. Mas as estrelas estão maiores. É estranho abrir a janela e não ver luzes na cidade. Apenas vultos escuros erguem-se ao redor. E em meio ao tédio e ao desespero, estranhamente as pessoas se unem para compartilhar sentimentos que não têm.
       A eletricidade se tornou tão básica e rotineira que nem mais a notamos. Como algo assim, sem vida, pode ter tamanho controle sobre nós? Particularmente, não vejo problema algum em ler ou escrever à luz de velas. Na verdade, sinto-me bem. Muito bem. Mas essa não foi a ideia inicial.
         De um jeito ou de outro, continuemos.
       Quando a vista cansou, soprei vela, liguei uma música, e me deitei. Assim mesmo, no escuro, nesse escuro que tantos temem e odeiam, pois aqui a música ganha vida. Cada nota soa maior, ecoa no mais profundo de mim. E a gente pára para pensar em cada minuto, cada voz, cada olhar, cada tom. Eu fico aqui, enquanto outros se desesperam e se entediam. E esses "outros" até que percebem que não estão sozinhos em casa. ó! Mas essa afetividade repentina é tão estranha... e é barulhenta! Talvez demais para mim. Mais incômoda até que o desespero ou a impaciência.
       As vozes deles se elevam, bem animadas, posso dizer. Chegam a ser contagi... não... não são... Eu não sou uma delas! Não sou! Não consigo ser! Mal chego a um sussurro! Esqueci-me de que não faço parte disso. Nunca faço. Devo me conformar.

(♪I’m safe in here. I’m where I’d want to be..)

Uau! Perfeita para o momento! Parece zombar de mim.
Com essas luzes apagadas me sinto tão boba! Mas... bem, vejo que me perdi de novo. 
 
       Voltando ao início: Fico pensando... Onde está a poesia que diziam haver no mundo? Frases e momentos só têm beleza nos livros?
      Não há luz. E o que fazemos? Oras. Conversamos! Mas, bem, eu... eu não. Eu observo. E penso. No escuro é tão fácil! A solidão que saboreio é doce. Ela cresce e me faz crescer também. Abro a janela. O céu brilha tanto. Sinto-me pequena de novo.
       Uma voz na escuridão.
       - O que faz na janela?
       - Nada. Tem um bichinho aqui.
     Ridículo. Quebrou o clima. Deito-me num colchão no chão. A música está alta e ocupa cada canto, parece vir de dentro, de fora, das paredes, do vento. O céu está tão claro. Sigo um avião, um pontinho branco e vermelho, uma luzinha, que flutua, até mergulhar na parede... e sumir. As estrelas brilham, grandes, belas. E há uma brisa entrando. A luz da vela oscila ao meu lado e me embaralha a visão das linhas do caderno. Ela pára. Inclina-se. Pára de novo. Não me importa. Estou me libertando.
      "Morte", ele diz, "é isso que aprende nos livros que tanto lê?" Não, não é... – penso comigo.
       Dou uma olhada para trás, para as estrelas, e certifico-me de que elas não se foram, de que ainda não estou sozinha. Acho que hoje elas não vão embora. É. O ser humano perdeu completamente a sensibilidade. CALEM-SE! OLHEM PARA FORA! TOLOS! Será que não percebem? É nas trevas que a luz tem mais força! É na luz da noite que as estrelas são maiores! É como se elas dissessem: acalmem-se; estamos aqui. Sim. É isso que aprendo nos livros. A poesia do mundo. A beleza dos detalhes. Aprendo a apreciar.
Feche os olhos. Ouça a melodia do silêncio. Ouça as estrelas chamando. Apague as luzes. Aprecie o brilho da escuridão. As diferentes matizes do nada. Tranque a porta. Sinta a presença da solidão. Converse com a lua.
Olho para estrelas numa noite de verão. Olho para o céu claro da noite.
Quem precisa da música? Eu tenho o silêncio.
Quem precisa de companhia? Eu tenho a solidão.
Quem precisa de lâmpadas? Eu tenho uma infinidade de estrelas só para mim...
          E a Lua...