vendredi 12 juin 2020

Icarus

SPASOV, Rumen - Icarus: I believe I can fly


Sua sorte fora pressagiada há muito pelo antigo Oráculo. Ainda no ventre e já trazia flamas nos sonhos. Muito cedo, passou a delirar labaredas e vislumbrar incêndios no sono. E passava horas fitando as chamas nas velas, fornos e fogueiras por onde passava.

Ela havia sido avisada: seu destino a levaria ao fogo. E pelo fogo ela despencaria.

Mas, obstinada, mirava-se no espelho com olhos duros e desafiava-se a resistir a si mesma. A ser maior do que si mesma. A derrotar-se a si mesma.

Forjou para si a mais dura obediência e banhou-se de uma força gélida - nada seria capaz de curvá-la. De esguelha observava brevemente o brilho das chamas e seguia altiva. 'Não', dizia, 'eu sou mais forte do que você'.

Ela negou, contrariou, desprezou. Ela lutou, recusou, congelou. Ela repeliu tudo aquilo que tentou tocá-la, sabendo estar fadada a cair no momento em que cedesse. Mais do que isso, ela sabia que seu toque mancharia as próprias chamas. Resistir era crucial para a sua segurança, mas também para a permanência do fogo. E ela soube enxergar através de todas as artimanhas das línguas ardentes que esticavam-se para alcançarem-na.

Mas, então, ele veio.

Ela puxou-o pela mão e, sem hesitar, disse:
'Incendeia-me'.