mardi 11 août 2020

Texto de quinta

Vue d’une œuvre (détail) de Zdzislaw Beksinski, « sans titre », 1977, huile sur isorel, 87 x 73 cm. Exposée à la galerie Roi Doré, Paris.
Zdzislaw Beksinski, 1977

Diário de Quarentena V

What is it that makes us beautiful?

I see them hand in hand in the checkout line. I hear the sex in the upper room. I watch those two laughing to each other on the street while walking their dog. I see two other exchanging knowing glances across the table.

What is it? What was it?

They are always too short. Too tall. Too many flowers in that blouse. Too many colours in that hair. Too small the teeth in that mouth. Too bright the skirt on those legs. Those eyes, aren't they a bit asimetrical? The voice is surely too loud. And yet...

What is it?, I wonder. What was it?

Where does the spark lies, that shone to one another's eyes? Where was the light hid, that put a spell on them? What could had been so final? What was it that ofuscated everything else? How can they be beautiful? How can we be beautiful, so flawful as we are?

Are we deceivers? Are we liars? Or are we just too blind to see? Or are we machines made for ignoring whatever doesn't matter? Whatever bothers?

What did each one do to persuade their lover of their worthfulness? How do each one persuade our lovers of our worthfulness?

Where does their light lie?
Where does our light lie?

For I can't see it.

Think I'm blind.

Or, mayhaps, I'm just too much of a seer.

vendredi 12 juin 2020

Icarus

SPASOV, Rumen - Icarus: I believe I can fly


Sua sorte fora pressagiada há muito pelo antigo Oráculo. Ainda no ventre e já trazia flamas nos sonhos. Muito cedo, passou a delirar labaredas e vislumbrar incêndios no sono. E passava horas fitando as chamas nas velas, fornos e fogueiras por onde passava.

Ela havia sido avisada: seu destino a levaria ao fogo. E pelo fogo ela despencaria.

Mas, obstinada, mirava-se no espelho com olhos duros e desafiava-se a resistir a si mesma. A ser maior do que si mesma. A derrotar-se a si mesma.

Forjou para si a mais dura obediência e banhou-se de uma força gélida - nada seria capaz de curvá-la. De esguelha observava brevemente o brilho das chamas e seguia altiva. 'Não', dizia, 'eu sou mais forte do que você'.

Ela negou, contrariou, desprezou. Ela lutou, recusou, congelou. Ela repeliu tudo aquilo que tentou tocá-la, sabendo estar fadada a cair no momento em que cedesse. Mais do que isso, ela sabia que seu toque mancharia as próprias chamas. Resistir era crucial para a sua segurança, mas também para a permanência do fogo. E ela soube enxergar através de todas as artimanhas das línguas ardentes que esticavam-se para alcançarem-na.

Mas, então, ele veio.

Ela puxou-o pela mão e, sem hesitar, disse:
'Incendeia-me'.

lundi 25 novembre 2019

Rubis

Roses in Pantheon,
photo by Emily Quinn

Mais outra minúscula pedra chove em silêncio, com seu rubro cintilando discretamente diante dos meus olhos. E outra. E outra. E outra ainda. Volta e meia ele entra por minha porta e lança-me mais delas, e eu me pergunto se seria possível cobrir o chão com esses rios vermelhos que lhe escorrem pelos dedos. Eu sei por que ele o faz: os rubis têm essa serenidade em seu rolar - e ele o sabe. E lança mão deles para me confortar. Ele. Não direi amá-lo. Odiá-lo tampouco. É difícil exprimir isso que se retorce em mim diante de seus olhos. É difícil até mesmo sentir - ou entender. Ele, que levou-me o ouro. Ele, que me exaure, fazendo-me verter em seus braços todos os cristais que eu já não aguento transformar. Eu, que não tenho Rumpelstiltskin que me faça o trabalho; eu, que não tenho mãos de Midas, e pego-me escorregando pelos estilhaços cristalinos soprados pelo chão. Mas, então, houve esse dia, um dia em que ele veio com uma gentileza incomum, tomou-me as mãos e guiou-me os passos numa lentidão calma para aquele lugar onde eu pude vislumbrar um brilho frio de pratarias. Ele fez-me olhar até perceber o encanto escondido em sua frieza, essa frieza de gelo que colocamos sobre as nossas feridas para que deixem de pulsar. Nessa cadência, ele, por quem não sei o que sinto, ensinou-me a mitigar a dor - aquela que nasce com ele próprio - e a debelá-la, fazendo enfim brotarem os rubis. Naquele dia, descansei como há muito não havia. Olhei-o no rosto fundo e eu soube lhe sorrir. Eu e meus lábios manchados de rubis.

lundi 2 septembre 2019

Sobre as três vezes em que encontrei a Morte, e a vez em que ela finalmente me levou



Ou: Uma morte em três atos
Do ensaio Mini People in the Jungle,Dawid Planeta



Tongue
You thrusted yours in me
Not seeing the blood you drew out
Or the poisoned air you locked in
You shaped it as a mask
to force upon my face
and shield yourself
from an incomprehension you said was mine

The walls you needed yourself
you build them around me
And I saw myself alone
Till I didn't see anything anymore

and it was the first time I died
  
Finally
- I thought to myself -
It has taken longer than I expected


Love
You crawled under my skin
and scratched inside my veins
savouring my blood with a sharp smile
You came hidden under deep eyes
          and shiny hair
You never knew I would see
right through your prince charming disguise
and unveil your claws

I spat on your face
and sent you running back
- in pieces
my pieces

You failed.
I was stronger than you
I am always so strong
And that was why I died a second time
          ('and that is why you'll keep dying', you answered)

Finally
- I thought to myself -
It has taken longer than I wished for

*

Bravery
You dared me
You showed me all the gold
at the end of the rainbow
and made out of it the perfect costume
You broke me and rejoiced over my shatters
You never warned me about the ticket tolled in blood

You took me to the end
You allowed me to the pot
You lead me to my doom
My arrogant mocking smile still on
as you silently kissed my breath away
and laid me cold and lifeless
among golden coins
under that colorful arch
and those brilliant drops of rain

That was the last time I died

Finally
- I thought to myself-
It has taken longer than I was ready for

mardi 23 avril 2019

"Daemones Effugate"*

Daemones ampleximini
Nikolina Petolas, Faded



Tudo começou quando aprendi a ler e, lendo, aprendi a reconhecer diferentes vozes. Até que eu aprendi a escrever, e foi assim que eu comecei a ouvir a minha própria voz.

Escrevendo, eu aprendi o verdadeiro sentido de ter uma língua - essa, que é única de cada um e, quase sempre, inalcançável. Escrevendo, eu finalmente tornei-me capaz de entender essa minha língua. Estranha, alienígena, intraduzível. E, agora, eu e minha língua nos entendemos como apenas nós podemos, numa sincronia inigualável, embora opaca para qualquer terceiro. Ai, os terceiros! Se ao menos pudessem dar-se conta de tudo o que se enganam! Mas seria esperar demais...

Escrevendo, eu fui fazendo mergulhos tão, mas tão profundos – embora zonas abissais ainda virgens aguardem-me em profundos ainda mais profundos -, que, malgrado o contentamento passageiro que talvez encontre no comunicar-me, esses pontos de encontro entre a minha língua e a do outro parecem-me agora sempre rasos demais. Insossos demais. Falsamente transparentes demais. E, perdida nesse oceano de gentes cegamente crentes na transparência, dominar minha própria língua permitiu-me dominar-me a mim própria. Até o momento fatídico em que, escrevendo, eu, um dia, descobri-me a exorcizar demônios.

Mas esses espaços vazios aborreciam-me, irritantes como um zumbido no silêncio do sono. Tantos exorcismos fizeram de mim calabouço em um campo aberto, e os muros que caíram no lado de cá os meus olhos passaram a enxergar no lado de lá. A minha compreensão me dera liberdade. Mas liberdades não se sustentam quando só se pode caminhar nos corredores das prisões dos outros.

Eu continuava só.

Escrevendo, eu despencara no paradoxo que é  povoar-me isolando-me mais, aproximar-me distanciando-me ao infinito, libertar-me sufocando-me em um labirinto inescapável. Eu pude descobrir a resposta a muitos enigmas, apenas para dar-me conta de que as chaves dos tesouros que eu descobri não estavam em nenhum lugar dos arredores. Longe demais do meu alcance.

Então ergui com minha língua um espelho, e tornei-me a voz que me replica quando murmuro no escuro. Um ciclo vazio, no final das contas: tornar-se mais para ser menos. Até que, escrevendo, vi-me face a face com uma nova verdade: eu já não tinha ganas de me exorcizar os soi-disants demônios. Não mais. Que, demoníacos ou não, diferentemente de todo o resto, meus demônios e eu guardávamos esse pequeno algo em comum – o algo mais crucial: meus demônios e eu, nós falávamos a mesma língua.

Rendi-me.

E foi dessa forma que, exorcizando, escrever ensinou-me a desistir dos exorcismos. Como Aladdin ao Gênio da Lâmpada, eu libertei os demônios todos, e trouxe-os para mais perto. Menos como fantasmas, mais como amigos. Menos como o tal diabo a aproveitar-se de nossos vazios, mais como o Grilo Falante a lembrar-me do que é essencial.

Escrevendo, permiti-me ser alguém que eu não sabia até escrever-me. Escrever rompeu meu casulo. Escrever empurrou-me precipício abaixo. Escrever desmistificou as grandezas. E, hoje, quando olho para o lado antes vazio da minha cama, eu enxergo meus demônios dormindo comigo. E está tudo bem.

~:~




* Mateus 10, 8

PS: Feliz Dia Mundial do Livro.

mercredi 27 février 2019

PRECE

Zdzislaw Beksinski

Tu que me ouves, de algum lugar, hoje eu peço que existas. E quando eu sair por essa porta, despida de todos os lados, dentro e fora, sem vestimenta ou sentimento a me cobrir, LEVA-ME. E livrai-me do mal.
Mas não só.
Peço que a distância seja sempre infinita e, o sendo, seja toda ela ainda nula. Quebra-me as pernas e prende-mas para que eu não fuja e, fugindo, queira agir, e, agindo, queira voltar a ser. Corre pela minha pele as garras do bicho mais impiedoso que encontrar, e esfrega-a até fazer visível a carne. Arranha-me a garganta e tira dela o que quer que me obstrua o fôlego. Tira dos meus pulmões esse laço apertado, que eu já não me lembro de como é me mover. Então mordisca, despedaça, desencarna-me. E, enquanto eu corro e bebo e vento nessa busca desesperada pelo respirar, fustiga-me de pedras, de uma tempestade de navalhas, para deixar escorrer tudo isso que sobra e eu não vejo.
Peço que esconda-me no inexistir para que essa distância seja tamanha que esteja além da distância. Chove-me até me derreter, e sopra para o horizonte tanto a solução como todos os seus precipícios. E mesmo a gota que descer mais fundo, manda longe. Decompõe-na e desintegra até que vento nenhum me possa encontrar. Até que eu não seja mais presença ou espaço.
Peço que não me espalhes. Que não me lances ao mar. Simplesmente me consome, desaparecendo com a minha carne e meu hálito, tapando a minha boca até que a agonia seja tamanha que eu exploda mais intensamente do que o sol ao nascer, mas tão pequena e banal e insignificantemente que mal faça barulho. Que seja esse esmorecer tão desprezível quanto o choque rotineiro dos átomos, que ninguém vê ou pressente. E que, da mesma forma, também ninguém se importe ou pergunte. Que sigam sem voltar a me procurar, para não alimentar assim os fantasmas.
Peço que, hoje, quando eu partir, sumas com as memórias. Destrói qualquer sombra. Evapora tudo. Esfarela cada detalhe para que seja menos do que sombras no espaço sideral, menos do que imagens borradas e memórias incompletas, menos do que frações de vácuo. Trata de mim até que eu seja nada. Até que eu enfim não seja.
Tu que me ouves, de algum lugar, hoje eu peço que meu morrer seja maior do que uma simples morte. Não me decompõe na terra, apenas para, em seguida, levar-me adiante.  Não hesita e apenas me some até o nada mais absoluto. Nunca mais eu quero ouvir. Nunca mais eu quero saber do mundo. Nem dos cheiros. Nem dos movimentos. Esmorece-me para eu nunca mais sentir. Que eu não suporto esse peso da ideias em minha cabeça. Nem o peso da minha cabeça sobre os meus ombros. Ou altura dessa música que não pára, dessas vozes que não silenciam. Eu não tenho alento para esse coração, que, sendo buraco, pesa como se levasse dentro a humanidade inteira.
Tu que me ouves, de algum lugar, hoje eu peço que arrume quem me derrame o pranto para o qual já não me resta água, quem me reencontre as palavras que fugiram para sempre e destampe tudo o que eu me calo. Alguém com mais força e com menos sentidos. Encontre mesmo alguém quem me viva, se assim preciso for. Quem me exista essa existência que eu não sei mais.
Faz o que lhe aprouver dos meus pecados,
da minha carne,
só livra-me da vida eterna.


Amém.



(reescrita de um texto de 2013)

jeudi 6 décembre 2018

Noli Subsistere

Noli putare.

Zdzisław Beksiński

O balanço era algo frágil, ela sabia,
Como grãos finos de areia brilhando sob o vento
Como gotas que estremecem ao menor movimento
Como o último vislumbre de sol engolido pela noite
Como a fração de instante entre o cristal e o chão

O teto sobre sua cabeça
As colunas sob seus dedos
Tudo ao seu redor inspirava zelo extremo -
Ela não podia correr
Ela não podia parar
Ela só podia ficar
     O ritmo,
     A respiração,
     A sede,
     O calor,
sempre constante.

Mudar não era uma alternativa
Que a única alternativa é não ser.
Ela a olhou nos olhos
Ela a encarou por um momento
Ela deu de ombros
Então,
sedenta,
ela a abraçou.

Seus pés dispararam pelo chão nublado
E o castelo todo vibrava sob seus passos
Havia fogo em suas pernas
em seu estômago
em sua garganta
em seus pulmões
E ela parou

Assim.

Simplesmente.

Naquele instante
O tempo esperou
O ar esperou
A gravidade esperou
Naquele instante apenas

No instante seguinte, o cristal tocou o chão.


Salvador Dali, Nuclear Head of an Angel

vendredi 5 octobre 2018

Queimada



Sobre a arte de enxergar.

Um dia, nos tempos idos da escola, aprendemos uma tal de "queimada rei-e-rainha". Era uma variação do tradicional jogo de Queimada, onde, em vez de eliminar todo o time adversário, bastava queimar uma única pessoa: aquela eleita - por irônico que seja! - pelo grupo para ser a realeza. Dessarte, uma coisa era indiscutível: o time todo se arriscava na linha de fogo para proteger o seu escolhido.
E, assim, no início, era o caos.
Se, em um primeiro momento, os jogos não eram que uma desordem de corpos lançando-se uns contra os outros na frente da bola, fazendo-se escudos entre o rei e o inimigo, pouco a pouco uma lógica começava a emergir. Alguns times se dispunham em círculos cujo centro era o rei. Alguns preferiam montar suas barreiras nas bordas de seu território. Outros, ainda, selecionavam a dedo os seus "sacrifícios", os atiradores, e cada outra peça daquele grande tabuleiro.
O primeiro insight, àquela época, se deu ao perceberem ser o sigilo uma defesa maior do que qualquer muralha ou exército: um monarca desconhecido, observaram, era um monarca fora da mira. E a natureza das estratégias começa a mudar. Os times se distribuíam no campo de modo a deixar o centro da defesa ambíguo, com duas ou três pessoas. Ou então dividiam por completo a atenção do inimigo, entrando em campo com dois reis e duas formações independentes. Nesse estágio de aprimoramento das estratégias, começava a ganhar peso o fator comportamento: um grito, um olhar assustado, uma boca meio aberta, sobrancelhas franzidas. Qualquer coisa que finalmente denunciasse às hostes inimigas que elas haviam chegado perigosamente perto do alvo.
E assim seguia o ciclo de insights, mise en scène, e ajustes, acompanhado de perto por análises atentas dos novos planos do adversário, e seguido, por fim, do desmantelamento de ambas as estratégias. Concomitantemente, os times mudavam. A cada troca, os soldados aprendiam a conhecer as táticas preferidas de seus potenciais futuros inimigos. A vantagem era a falha na muralha: todos eram espiões de si próprios.
Nesse baile de manobras e máscaras, uma única posição não parecia digna do rei: a de peão. Não se poderia protegê-lo disfarçadamente na linha de frente. O risco é grande demais.
Ou é mesmo?
Enquanto cerravam os olhos buscando ver através das barreiras e desvendar a lógica confusa do invisível-visível no lado oposto, pouquíssios - ou, mais comumente, nenhum - desperdiçavam suas energias nos tais peões. Incontáveis vezes, na velocidade de sucessão dos ataques e contra-ataques, enquanto o time todo voava avançando e recuando sobre seu território freneticamente, eu me lembro de ficar lá, de apenas me manter, os pés desenhando a linha fronteiriça. Não raro, senti na pele o vento quente de um lance inimigo - sem, no entanto, ser seu alvo. Nem uma vez.
Aquilo me intrigava.
E intriga.
Me intrigava que a melhor forma de me esconder era colocar-me ao alcance de seus dedos, era lançar-me discretamente à sua frente. Me intriga que dêem tanta atenção ao que lhes foge que acabem por perder de vista o óbvio.
Todos parecem ter olhos apenas para o que não vêem. Foi essa a minha gloriosa conclusão naqueles dias de uniformes sujos, cadarços enrolados e joelhos esfolados. Foi isso tudo o que consegui formular enquanto buscava palavras em que coubessem minhas inquietações. Concluí que chaves e cadeados fazem péssimos silêncios. Concluí muitas coisas.
Mas, mesmo assim, eu era só uma criança com palavras bonitas sobrando e tentando me livrar delas onde pudesse - até mesmo nos jogos da escola.
Hoje, muitos anos depois, do alto dos meus centenários milenares, eu enxergo todos os escudos forjados nas minhas palavras e concluo que havia ainda o que ser concluído. Assim, fui-me paulatinamente despindo. E, hoje, nua, de cara limpa frente à multidão, eu finalmente fiz do meu monarca invencível. À mostra, faço-me invisível. E, portanto, inqueimável.

mercredi 19 septembre 2018

Careless

That little lady has been trying to cross the street. She has a foot already on the asphalt, while people have been passing her with their lifeless deaf eyes. There is this bus sliding down, swaying from side to side, while people inside struggle for tasting some air, whereas those wheels long only for home. Then you are not seeing that flower falling over your head like rain when the wind blows, proudly telling you it is able to fly. As it reaches your feet, you simply crash it and go on however its broken petals yell 'mourn me'. Nobody is seeing him when that man stumbles by the next corner, nor the rain that is gone for dozens of days now, or the cake on fire inside the oven, or that heavy branch fallen deep in the woods, or the deer not licking the blood on its missing paw, or how high that butterfly flew before getting invisible in the clear sky. Nobody saw the old test thrown away by those teens, that bubblegum the child swallowed when it got tasteless, or the pen his mother lost in the kitchen. Nobody saw it when you finished your first book, when he dropped his cellphone under his desk, when she forgot her bus ticket, when the cat caught that rat or when that tiny bird broke its egg and feared the ground down below for the first time.
The universe is this eternal coming and going, not surprising itself with corpses or newborn cries. Who are we in it? Who are we but dreams of a shadow?
Once upon a time we were born, and nothing changes when we are finally happily-ever-after-ly dead.
As we are sure going to be.

mardi 6 mars 2018

O Homem e a Pedra

De l'encre au sang
Du papier à la peau
Maintenant comme toujours
Amen
@van.tattoo


Existe dentro de mim um homem
De rosto velho e queimado
Sísifo disse ser seu nome
Mas, se o for, ele está bem mudado

Da face toda aquela astúcia some
E dá lugar a um olhar cansado
Deuses, agora, à sua vista dormem
Capaz de nada nesse desamparo

Existe dentro de mim um homem
De rosto austero e fechado
E o pesadelo que ele vive, insone
Só de montanhas está povoado

Existe dentro de mim um Sísifo
Que não sabe mais que despencar

E cada vez que ele alcança
O topo da montanha
A Pedra diz adeus e
Sorrindo
O empurra para o abismo


"Chacun des grains de cette pierre, chaque éclat minéral de cette
montagne pleine de nuit, à lui seul forme un monde.
La lute elle-même vers les sommets suffit à remplir un coeur d'homme.
Il faut imaginer Sisyphe heureux."

CAMUS, Albert. Le Mythe de Sisyphe.