mardi 31 décembre 2013

Sing a lullaby now I remember...

...Tempo que se foi e não se esquece mais.
[Late Redemption, Angra]


Just a Text


What do you think is gonna be?
Ten or twenty years from now?
And at the moment of your death?
What are they going to say?
Good friend? Good father? Good husband? Good wife?
That's all?
Do you want that in this meantime all your life be a party?
Are you going to live your life like it was always the last day of your life?
What if doesn't happen to be the last day of your life?
What if tomorrow come to take it back?

I end my questions.
- Take a deep breath, feel the pain.
It's just another day after all,
it's not like there's no tomorrow. -




"Tempo que passou
Não vai mais voltar
Tudo o que se foi
Toda a minha dor
Nunca vai voltar
Tempo que passou
Nunca
Tudo se acabou"

samedi 14 décembre 2013

Cápsula do Tempo

(Sobre a Transição)
"Escrevi meu nome, mas não consigo
mais encontrá-lo.
Minhas cinzas se espalham como pó pelo
labirinto invisível."
[NGaiman]


Há muito brilho, muita diversão, muitas risadas altas. Festa, bolo, casa grande, carro novo, vestido longo. O mundo é completo. Paz-amor-sucesso-e-felicidades. Não, cavalos brancos ficaram velhos, mas há um louro alto, uma garotinha vestida de rendas e todos os olhares. Todas as luzes. Todas as palmas. Realizações. Tudo é perfeito. Você consegue ver? Venha, coloque a mão, não tema! Sim, é tão lindo. Há um jardim ensolarado. Que tal um brinde?
Mas... não? Não.
O que há é matéria. Cadeiras-tábua-chão. Parede-fria-terra-batida-cimento-duro. Falatório-carreira-briga. Nada é belo e o mundo se apaga em medo. O que há são sonhos de neve, brilhantes e fracos. Eles derretem escorrendo pelos vãos porque já passou tempo demais. E com eles vai embora o calor das mãos, que se tornam secas e velhas. O que há são projetos frágeis, mentes conturbadas e prazos cada vez mais evidentes. Porque a vida está ficando pesada e os relógios contam um vento denso. Os dias são tangíveis e quase podes tocar o tempo, parti-lo com teus talheres de prata e comê-lo. Só quase. Não consegues comê-lo porque ele não te desce pela garganta, te fere o paladar infantil que pede apenas por doces. Não consegues comê-lo por ser áspero e duro, arranhando tuas entranhas, por ser forte demais para teus dentes de porcelana.
O que há é barulho. Muito barulho. Palavras-zumbidos-algazarra. Gentes se derramando pela boca, sufocando os próprios ouvidos, e uma cabeça sem foco. Discursos demais, planos demais, que mal param de pé. Quando o último grão cair ninguém, vai saber o que fazer. Quando a próxima porta se abrir, ninguém vai saber para onde correr. Quando a hora chegar de te mandarem olhar para trás, que pena, ninguém saiu do lugar. Desde o início baratas tontas batendo com as cabeças e chocando-se nas paredes. O filme acelera, o volume aumenta, a cena ganha cores fortes, fortes, mais fortes, super saturadas, gritantes! E correm, correm, correm...
O que há é matéria. O que há é barulho. Gelo e peso. Coisas quebrando e fazendo estrondo, coisas que atrapalham e dão trabalho. O que há é pressa. Cansaço e cegueira, uma corrida no escuro. O que há é tempo. De concreto e chumbo, e o batem em nossa cabeça como um ovo, esperando que saiam dali vida e beleza. Não vai sair nada. Nem flores, nem amores e nem perfumes.
O que há são sonhos de neve. Sem bonecos ou flocos prateados. É apenas gelo cortante do que não podes fazer existir. É a fusão de cada beleza que um dia sonhaste. E o teto em brasa da realidade cai sobre os corpos, marcando-os como touros para o abate. É o calor que desfaz a neve. Derretendo, ela te escorre pelos dedos, te faz escorregar, mergulhado nesse mar de cadáveres.
O que há é a morte do que nunca foi. É a partida do teu eu que nunca existiu. É teu futuro que ficou passado e as folhas secas, para se quebrarem no próximo outono.
O que há... é não haver.



MensagemparaocuparoBranco
14 de Dezembro de 2013: Um ano exato daquele novo fim. Eu me pergunto sobre o que são fins. Eu me pergunto até onde valem minhas filosofias. Até onde vale qualquer filosofia?
De tudo, o que é que fica? Sobram sombras. Restam retalhos. Ficam fios. Fios soltos, balouçantes, fazendo cócegas quando roçam a face ou irritando a pele sensível. Ecos. Somente.
Isso foi o que me sobrou da nossa cápsula do tempo, das memórias e ilusões e fantasias ingênuas que nunca desenterraremos. E eu descubro que isso bastava. Que a imagem basta. Imaginada. Como dizer o que é verdade ou mentira, o que é certo ou errado? Acaso sei se, ao menos, existo ou sonho eu mesma? Ou sou eu sonho?
Vãs as filosofias.
Vãos os anéis.
Os dedos também.
O único valor é a imagem. É a mente. Pois que, não sabendo de nós, sabemos do que parte de nós. Como premissas, temos o mundo na palma da mão. Às favas com as verdades. E com meus niilismos. Se nada vale de nada, façamos do Todo o que quisermos. Façais. Que eu fico aqui, e observo. Observo-os dançando, valsando sobre brasas ardentes, voando sob a chuva ácida. Observo-os porque, em si, viajam pelo arco-íris. E é só isso o que importa.
Há um ano, minha verdade era outra. Meu princípio era outro. Minha filosofia era outra. 
Mas isso não importa. Há um ano, o mundo era outro, como cada um de nós. O que fizemos? O que faremos? Só depende do quanto saberemos ceder. Saberão.
Ignoro os lados para os quais desdobraram. Não que isso importe. Nada importa. No entanto, de olho na foto, basta-me que, um dia, flores assim tenham brotado - e que olhos a tenham visto, e que mãos a tenham tocado.
Não é otimismo, nem conformismo, nem ismo algum. É Aristóteles.


dimanche 8 décembre 2013

O Segredo do Pierrot

Com uma virada de seu lenço pardo sobre as mãos, elas tornaram-se em primavera, oferecendo botões vermelhos e amarelos à criatura miúda ao seu lado. Finalmente interrompeu sua indiferença, desviou os olhos e fitou a mão de dedos longos a rodear as flores como se deslizasse sobre uma redoma invisível. Subiu, acompanhando cada detalhe, até o rosto debotado do Pierrot, seus olhos tão azuis que só então percebeu. E viu o primeiro trincar. Ele viu seus olhos brilharem acendendo uma luz naquele abismo e uma curva delicada em seus lábios rasgar-se em um quase sorriso que lhe foi como o amanhecer. Esticou o braço em um floreio. Vencida, fechou o diário e pegou-as com as duas mãos, baixando-as em seguida até afundarem nas pregas de seu vestido, de cabeça baixa novamente, sentindo um carinho quente chovendo daquele estranho. Sorriu de novo,
para as próprias mãos, com uma gota pendendo dos cílios, não vencida - agradecida.
Quando a chuva cessou, foi-se toda tinta, o calor e os sorrisos. Lavou-se a máscara. Ela levantou os olhos e retraiu-se com a vista. A face desnuda e miserável... Do Arlequim.