dimanche 18 mai 2014

Conto do Mundo

Nalunani - Three Lives Left
Antigamente existiu a calma. A Calma era serena, profunda e pesada, como um cristal que retém a maré bravia. E que existia acima de todas as coisas. Então veio o tempo do Grande Terror, e a Calma estremeceu. Um pequeno risco surgiu tilintando na superfície e o som profundo das ondas foi-se estrangulando, a água foi escorrendo, voraz, e a Calma a tal ponto abalou-se que abriu-se à Histeria.
O Tempo rolou longamente. Muitas eras ele abarcou. Muitos sois nasceram e partiram. Muitas luas vieram preencher sua falta. Até que o Espelho alcançou o rolar do Tempo e a Histeria se viu.
Jogou-se contra ele.
Dos fragmentos enrubescidos, a Consciência nasceu, e a Consciência parou o Tempo. Ela conteve cada nova erupção, que se foram fazendo esparsas e esparsas. E o Silêncio.
Como último sinal, sobrou uma pétala branca. Uma miséria, um resquício envergonhado de uma não vida qualquer.

Recentemente, existiu a calma. E a Calma era outra. CalMaria. Nova. Reluzente. Reluzente feita aço. E a Calma era discreta, sutil e leve, como a neblina pela manhã. Tão discreta que beirava a ausência. Tão sutil que beirava a imobilidade. A Calmaria foi-se fazendo Absoluto.
Calmaria foi esmaecendo, tão calma. Murchando como flor no outono. Foi-se desmembrando pelo sopro do vento que espalha a neblina, até fazer-se inexistência. Até assemelhar-se em tudo à Nada.
E Nada imperou.
E Nada é o Todo. É o Absoluto. É a Calma. É a Consciência. É o Tempo. É a Histeria. É o Silêncio.
Nada era o Mundo. E o Mundo... O Mundo é nada.

[19.abril.2013]

samedi 3 mai 2014

Quanto mais se cala tanto mais se diz
As vozes são resto a quem não restam palavras

Quanto mais confunde tanto mais se é
As certezas são a utopia dos incertos

Quanto mais se apaga quanto mais se vê
As clarezas são a caverna dos mal ilustrados

[Tristan and Isolde VIII, Slevin Aarion]
.
Quanto mais se abre tanto mais se pertence

As cadeias são a desvirtude dos despossuídos
.