mardi 23 avril 2013

Nada de Novo no Front

[ Carta VIII ]


É fascinante, inacreditável. É incrível.
É... é simplesmente inexplicável a forma como alguns livros, por vezes, dizem exatamente o que o leitor precisa, saciando o vazio do mais profundo de seu inconsciente. Este diz, e está trazendo de novo o velho eu que nunca quis que desaparecesse de mim. Ele... ele está me trazendo a esperança de volta. Ele está me trazendo de volta.
Ele me coloca a mão sobre a cabeça, e eu o ouço sussurrando como se me mandasse parar.
Respira, devagar com esse passo. Respira, pára de atropelar as coisas nesse teu levar a vida cegamente. Respira... Larga mão desse deixar para lá.
Pára agora. Não tens de te arrastar assim. Espera um segundo e deixa que cada coisa se acomode em seu lugar. Põe-te, tu, no lugar. Põe tudo no lugar.
E retoma o controle.
E diz bem baixinho: Retorna para ti.
Pára.
Pára.
Respira.
E silencia.
Sabe... é simplesmente inexplicável a forma como algumas vozes, por vezes, continuam nos dizendo o que fazer - mesmo de longe. De tão longe... E elas voltam no tempo, através de cada palavra. E elas me lembram de quem sou. De quem sou de verdade, no interior mais escondido, em minha forma mais despida e pura.
Obrigada.
Obrigada por suas vozes. Obrigada por me ouvirem. Por me lerem e me contarem a minha história, mesmo quando não consigo compreender a sua. Obrigada por, no bolso, na mochila, embaixo do travesseiro ou trancafiados no armário, não saírem de perto de mim.
Obrigada, pois estão sempre lá. Pois sua voz ainda está lá. Por, a cada dia, me ensinar o caminho de volta, e por me ajudar a percorrê-lo.

25/Jan.

*****

"A poesia lírica, no que tem de mais forte, ensina-nos a falar conosco, e não com os outros."
Harold Bloom

Mais um 23 de Abril, Dia Internacional do Livro.
Mais um texto dentre os tantos onde os aponto como minha referência, como meus objetos de memória e de conhecimento. De autoconhecimento. São as histórias dessas memórias, mais do que as que trazem impressas, as que os livros nos contam. São os olhares de nossos próprios olhos os que eles nos revelam. São quem nos mostra que ainda estamos, em algum lugar, inteiros.
Outro foi meu plano para hoje, mas o texto que sobrou - imprevistos à parte - foi este. Mas descobri que ele serve. Descobri que, ele mesmo, também fala comigo, e com qualquer um que reconheça nas palavras - técnicas, filosóficas, fantásticas, espirituais, lógicas, violentas ou românticas - mais do que apenas desenhos de tinta fria.


"But I do believe something very magical can happen when you read a good book."
J.K.Rowling

samedi 20 avril 2013

Sobre As Promessas




Prometer é tentar deter o tempo.
Um passeio, um café, uma visita. Projeções futuras para tentar garantir uma extensão do presente. Ao menos, até ali. Aqueles temerosos pelo vazio de suas mãos buscam, com isso, a certeza de mantê-las cheias. Não querem virar as costas, não querem ver o que se mostra à frente, logo após essa cortina espessa de águas escuras.
E às vezes nem tão espessa.
Porém, cedo ou tarde, é definitivo. É inescapável. Não se pode diminuir o passo ao extremo do zero. Não se pode esticar um instante ao extremo do infinito. Hora ou outra o cordão, não se rompe, se arrebenta, então cai com um baque a percepção de que ele nem sangra - de que essa mania de planos resulta somente na obrigação de se levar um peso morto consigo estrada adiante.
Então, novamente,de uma súbita fraqueza outra promessa nascerá. Porque, novamente, não se quer saber o que poderá substituí-lo.

Humanos...

mardi 2 avril 2013

Sem Saída

Pegar é largar
Partir é ficar
Falar é calar
Seguir é voltar

É desconhecer, o explorar
É fundo cair, se levantar

E se foge para chegar
E se acorda para ninar
E se mata para salvar
Muito mais que por matar

Então clamas: Ai de mim!
Que mais a ganhar teria
Não rumando por aqui
Mas por outra cercania

Que inocente és, pois sim!
Como é vã tua agonia
Perderias tanto assim
Quanto talvez lucrarias

Que cada universo em que entras
De outros te vai afastar
Para cada amor que acolhes
Dezenas vais despedaçar

Para um amigo que enlaças
Outros vários vais abandonar
Para uma dor que obliteras
De outras muitas tens de te lembrar

Que o mundo é mesmo assim
Estende a mão para retirar
Escolher é sempre perder
Ainda que se escolha ganhar

No entanto estás fadado a ele
E jamais poderás escapar
Tua existência ele tem o poder
De à sua vontade arrastar

E teus instantes ele vai roubar
E teus sorrisos ele vai borrar

Sem esperanças, tu vais sufocar
Que tua energia ele sabe esgotar

- Ei, ei... Mundo velho sem porteira...