mercredi 28 décembre 2011

Sæclum In Favilla

Alegras-te então, Homem?
És cego ou néscio?
Tudo não passam de raios aumentando as sombras - distorcendo-as - enquanto marcam o infinito seguir adiante do mundo.
. É um ano a menos a separar-te do dia de tua morte.
. É uma badalada perdida na passagem cadenciada do que esgota-te lentamente.
. É um grão a menos entre seu riso inútil e o fim dos tempos.
. É o tempo do teu fim.
. Prosseguindo lenta, mas ininterruptamente.
Diga-me, pois, Homem: o que tanto aplaude?
Acaso felicitam-te as explosões brilhantes a prenunciarem teu destino?
Diga-me, pois, Tolo:
. Celebras por quê?
Devaneios de uma madrugada insone...
(28/12/2011; 00:48)

mercredi 14 décembre 2011

Doze


Doze.
Enfim.
Era o que estavam esperando. Malas feitas, fim de papo. Para a maior parte aquilo não é grande coisa. Para a maior parte era apenas o que esperavam. Todos juntos, falando alto e levantando-se rápido, deixando para fechar os zíperes no meio do caminho, sem ao menos olhar para trás. Davam suas risadas e gritavam uns aos outros através dos corredores como se fosse um dia qualquer.
Mas maior parte não quer dizer o todo. E havia aqueles para quem aquele minuto significava muito. Aquela nota era mais do que um chamado, era um símbolo. De tudo o que ficaria atrás da porta. Alguns deixavam essa sensação bem clara, porém, outros... ah, outros apenas sorriam ou continuavam descendo, mirando os pés que batiam ritmadamente. De certa forma, mesmo para os mais tolos, algo se fez sentir. No ar. Nos rostos. Nas bolsas penduradas desajeitadamente nos ombros inclinados.
Cruzadas as portas e fechados os zíperes, era permitido aos olhos enxergar em frente, mas o que lhes atingiu não foi um dia qualquer. Tentam disfarçar que estacaram na descida, que hesitaram antes de prosseguir com o próximo passo. Perceberam? Perceberam. Agora eles perceberam. Em um dia qualquer não há manchas naquela alvura uniforme. Em um dia qualquer não há tatuagens em tinta de caneta. Em um dia qualquer não há aquela liberdade. Em um dia qualquer... não há aquela face de olhos que receiam os sorrisos dos lábios... As piadas e trocadilhos. Já estavam cansados deles. Repetidos duzentos dias sem cessar. Mas eles riam mesmo assim. Riam para esconder.
Ralentaram. Por medo, talvez. Mas também por falta de espaço. O fluxo alcançara a menor passagem e ali houve congestionamento. Deram voltas pelas grades, empurraram-se, pés pisoteados. Em pouco tempo cada um consegue respirar aliviado por ter atravessado o portal entre aquele canto apertado mal iluminado e o grande espaço em frente. Piscam repetidas vezes com os olhos assaltados pelo luminosidade inesperada do lado de fora. Céu zombeteiro. Azul como nunca, limpíssimo, o sol bem em cima, queimava-lhes as nucas. Então era ali. Separação.
Vertentes. Muitas delas. Sentavam-se pelos cantos ou nas baixas muretas e degraus. Agrupavam-se animadamente. Planos, braços dados. Afastavam-se discretamente. Para observar. Para esquecer. Ou apenas para aceitar a carona. Promessas. Braços erguidos.
Mochilas no colo e mãos acenando. Olhando atrás e acima percebem os pontinhos movimentando-se cada vez em menor número no pátio ensolarado. Os lábios se fecham, os olhos caem, as expressões tornam-se vagas e inseguras. Por um momento algo novo os invade. Uma nova percepção:
Aquela nota, aquela onda descendo alvoroçada, aquelas vozes alteadas. Não era possível mas já era. A hora chegara. O mês era outro.
Doze.
Meses.
Não! Não aquele sinal ainda. Sem fogos de artifícios, sem shows, sem virada. Era outro. Aquele outro. Era o mesmo chamado longo de antes. A nota era igual. Mas a hora não. Essa nota era outra. Não voltariam após o intervalo. Não haveria. Os ponteiros do relógio indicavam algo diferente. Era definitivo. E o maior estava bem próximo.
Enfim.
Do doze.
Promessa paga, Flavíssima? Feliz Dezembro pra você.

dimanche 4 décembre 2011

Desencontro




           Havia uma cortina após a janela, enchendo toda a paisagem de riscos brancos e rápidos que, levados pelo vento, rodopiavam como se dançassem. As árvores inclinavam-se bebendo as gotas pesadas e tombando sobre os muros. E o chão cintilava, como milhares de estrelas cadentes caindo sem cessar, criando florezinhas brancas com suas pequenas explosões. 
            Pela rua, uma onda suja avançou com força e começou a inundar a volta das calçadas, num som de rio sobre pedras. As mesmas mínusculas gotas que misturam-se à tinta borrando de vermelho rosado a alvura do papel engrossa a corrente lá embaixo. Esta empurra uma garrafa plástica - resto de gente -, que é levada veloz, virando ao bater nas falhas de relevo entre as pedras do pavimento. Por fim, encontra o meio-fio e vai guiando-se pela enxurrada que o cerca, ali acelera para rapidamente perder-se de vista, descendo rolando na espuma acinzentada. 
           Quanta coisa a água leva. Quanto haverá que nem se sabe? Pessoas? Lembranças? Um soldadinho, talvez? Sim... Havia algo perto disso. Terá passado ele tão rápido e despercebido, aos trambolhões, como aquela garrafa? Quem sabe por entre as saias brancas dos botões estourando na calçada à melodia da chuva estivesse dançando uma bailarina.
             A sua bailarina.
(26.Nov.2011 ; um sábado chuvoso, em algum lugar de Alfenas.)