dimanche 3 janvier 2016

Hafnium

" But if of ships I now should sing, what ship would come to me,
           What ship would bear me ever back across so wide a Sea?"

(TOLKIEN, The Lord of The Rings, The Fellowship of the Ring, book II, ch. 8)


Tema o grito das gaivotas, ela disse.
Mas eu, pescadora, me lancei ao mar. Sem atar-me ao mastro ou tapar-me os ouvidos, deixei-as com seu canto, cada vez mais próximas. Também já me haviam lembrado de que à luz se teme mais do que as trevas. Vão. Eu, tão mais forte, ergui logo o rosto pra mirar-lhe os olhos - e os meus foram levados. E quando as águas tornaram-se chão e o vento tornou-se mar, eu, sempre tão ateia, larguei ao seus pés minha oferenda, minha palavra, minha prece. E agora não sou eu quem parte. Eu fico. Sendo a terra quem parte de mim, quem me deixa partida, sem chão, sem rumo.
Aqui jaz meu coração. Aqui jazerá até o dia em que eu voltar, não para buscá-lo, mas para habitar com ele.
Daqui em diante, cada segundo será uma copia ruim, uma memoria borrada, uma sombra dessa vida que existiu fora do tempo e do espaço por meros instantes de infinito, que nunca existiu de verdade, que já nasceu outono e que eu agora cremo no fogo da primeira neve.

O inverno chegou.

" 'Here is the heart of Elvendom on earth,' he said, 'and here my heart dwells ever, unless there be a light beyond the dark roads that we still must tread, (...)"

(TOLKIEN, The Lord of The Rings, The Fellowship of the Ring, book II, ch. 6)