mardi 29 octobre 2013

Limite

"Ora, numa dessas ocasiões, as palavras soaram-lhe repentinamente aos ouvidos, Não aprendeste nada, e nesse instante o sentimento de ausência, de falta, de solidão, foi tão forte que o seu coração gemeu, ali estava ele, sozinho, sentado na margem do Jordão, olhando os pés na transparência do rio e vendo manar de um dos calcanhares um leve fio de sangue, e lentamente mover-se entre duas águas, de súbito não lhe pertenciam o sangue nem os pés [...]". [Saramago, em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, p. 222-3]

dimanche 20 octobre 2013

Get the lights down

De vez em quando eu olho para fora. E meu peito aperta e me levanta um soluço até a garganta e minhas mãos tremem e meus olhos choram.
De vez em sempre eu olho para dentro. E o vento ruge e a terra voa e o silêncio pesa e a morte exala.
De uma vez por todas eu olho para o espelho. E eu rasgo e eu me encaro e o rosto enxugo e eu aprendo.

Você não é feita de outro modo.

Eu urro. Mas calo. E de pronto repito e tomo nota. Para não esquecer. Como aluna obediente.

samedi 12 octobre 2013

12.10

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JUVENTUDE, Fernando Pessoa. "A primeira nutrição literária da minha meninice foi a que se encontrava em numerosos romances de mistério e de aventuras horríveis. Pouco me interessavam os livros ditos para rapazes e que relatam vivências emocionantes. Não me atraía a vida saudável e natural. Anelava, não pelo provável, mas pelo incrível, nem sequer pelo impossível em grau, mas sim pelo impossível por natureza.
A minha infância decorreu serena (...), recebi uma boa educação. Mas, desde que tenho consciência de mim mesmo, apercebi-me de uma tendência nata em mim para a mistificação, para a mentira artística. Junte-se a isto um grande amor pelo espiritual, pelo misterioso, pelo obscuro, que, ao fim e ao cabo, não era senão uma forma e uma variante daquela outra minha característica, e a minha personalidade será completa para a intuição."

dimanche 6 octobre 2013