vendredi 16 novembre 2012

Dead To The World


Na penumbra, pousou levemente as mãos sobre os ombros magros e tirou com cuidado os fios de cabelo da sua boca. Na pouca luz, viu manchas escuras e úmidas sobre o travesseiro, e desconfiou de vermelhidões naquela face tão serena. Ouvindo sua respiração forte, o seu próprio peito pesou.
- Você nunca me conheceu. - A voz abafada do passado retornou.
- Talvez não a conheça, querida... - Sussurrou mais para dentro do que para ela. - Mas será que algum dia eu a verei feliz? ... apesar de tudo...
Sentiu seus dedos começarem a apertar os ombros e culpou-se por não ter sido o bastante.
Afastou-se com cuidado e fechou a escuridão no quarto. Pela última vez.

Aproximou-se com cuidado. Abriu a porta e deixou a escuridão sair. Já estava tarde.
Com o cômodo subitamente invadido pela luz, seus olhos cegaram. Caiu de joelhos no chão. Das entranhas arrancou um lamento, sua origem mais profunda do que a criatura da sua própria carne. Perdido e distante. Arrastou-se até a janela sem poder comandar a si mesma, ao menos para chorar, e deixou o rascunho borrado ser carregado de suas mãos inertes.
Esvaziou-se de toda a emoção.

O peso daquele pouco não foi muito para permitir que voasse pelos ares. Tão denso e tão frágil. Tão completo e tão vago. Ele correu por sobre todos os pequenos mundos pretensamente vivos, absorvendo-os, reconhecendo-os, não mais notado do que seria um inseto, para pousar sem ruído sobre um fio de relva.
Antes de ser novamente empurrado, os olhos. As mãos em concha e o silêncio. Tocaia. Quando o captura, todo o seu ímpeto desaparece em dúvida.

"Feliz? Seja sincera, você realmente acredita na existência da felicidade?
...
Não crie culpas, realmente não cheguei a esperar que compreendesse. E não procure pelos restos, não merece isso.
E não se lembre. Nunca se lembre. Lembranças não fazem bem.

PS: Uma última piada, não são? Todas essas negativas... Acho que foi esse o problema. Eu nasci negação."

Franzindo as sobrancelhas, virou o rosto para cima, como esperando mais de onde aquele pedacinho viera. E de onde viera? Não poderia ser de muito longe. É irônico que carregasse tanta história. Que carregasse o vento tantos papeis. Que carregassem papeis palavras. Que carregassem palavras vidas. E carregavam vidas mortes, pelos ares, com a maior facilidade... "Uma última piada, não?"

Deu de ombros e jogou-o de volta no chão. Pouco importava, na verdade.
No mais, talvez fosse ela só um sopro.

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