mercredi 13 octobre 2010

Desilusão

Por muito tempo você esteve distante dessa porta, certo de que nada ameaçaria aquilo que ela guardava. Por muito tempo você adiou suas visitas àquele comodozinho por coisas não tão importantes, e repetia a si mesmo que seu tesouro estaria seguro. Mas agora um tremor te percorre o corpo. Algo atrás dessa porta está errado e não pode mais esperar. Algo que talvez já tenha esperado demais.
Você pode ouvir as batidas do seu coração acelerarem ao toque gelado da maçaneta. Com um ruído a porta se abre, você inspira o conhecido aroma doce e por um momento acredita que nada mudou, foi tudo paranóia sua. O grande globo de vidro reluzente está bem no centro, sobre um pedestal esculpido em gesso. Um feixe de luz desce diretamente do teto sobre ele. O resto do cômodo, escuro e vazio, como sempre esteve.
E então você vê. A luz não emite os reflexos confusos, e não há aqueles brilhos coloridos dentro do vidro. Para onde foram? Mas q..? Você chega perto e repara na fina rachadura que riscava o vidro. Dentro deste: nem uma gota. Algo torce seu estômago e um nó sobe para a sua garganta que não te deixa respirar. Você não entende como isso pôde acontecer. Seu olhar desce pela linha fina e úmida no pedestal até alcançar o chão. Seco. Não!! Como? Sinto muito, pelo visto já faz um tempo.
Mas uma luzinha se acende em você, que acaba de reparar nas pequenas poças aqui e ali. Há apenas um modo de recuperar o pouco que resta. Você corre para fora e volta com panos que espalha pelo chão, cobrindo cada canto, para que alguma coisa se salve. Quando acaba, censura-se por ter esquecido os baldes, e sai correndo, novamente.
Enquanto respira fundo e tenta se concentrar, pode sentir seu sangue pulsando. Você tenta descobrir algum otimismo ou esperança no meio do seu desespero. É hora de ver o que sobrou, mas você hesita. Você não pode viver sem isso. Não há um sentido em viver se você perdê-lo...
Quando o trabalho acabou, você mergulhou o rosto nas mãos e chorou. Chorou como um bebê. Intensa e inconsolavelmente.
Porque você torceu os panos, mas estavam todos secos. Completamente secos.
Porque nem uma gota restou.

1 commentaire:

  1. É engraçado como atrás de tantas portas tem tantas tábuas e chão secos, e nada do que era guardado dentro sequer uma vez foi cheio...ou está a tanto tempo vazio.

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