mercredi 18 août 2010

Um Embate Ético

O universo científico sempre passou por vários confrontos, mas a situação se torna mais polêmica a medida que novas tecnologias são desenvolvidas. Depois de temas como o aborto e a eutanásia, o que preocupa a população científica são as divergências a respeito de formas sintéticas de vida e clonagem - que não é um tema novo, mas voltou aos debates. Recentemente foi publicada uma experiência onde seres vivos foram reproduzidos em laboratórios ou, como preferiram dizer, a primeira criatura viva cujo pai é um computador. Agora o foco é a clonagem e a reprodução artificial humana. Novamente a grande dúvida: seria correto começar a vida dessa forma?
Os representantes das inúmeras religiões representam um grande rival a esses experimentos, alegando ser essa uma atitude que nega a ordem natural da vida. Cada ser humano deve nascer naturalmente em uma família, crescer e formar laços sociais. Não se é permitido "brincar de Deus", pois a vida criada artificialmente desregularia toda a sociedade atual e mexeria com a nossa consciência de indivíduo.
Muitas vezes, dentro da própria comunidade científica, se pergunta se realmente vale a pena continuar tentando. É clara à todos a possibilidade das experiências em humanos e, cientificamente, não há empecilhos a isso, mas há uma lei natural e deve ser respeitada. Questionam-se os benefícios que poderiam ser alcançados e se eles justificam toda essa reviravolta. O conhecimento pelo conhecimento pode ser atraente, mas em se falando de vida, os fins devem ao menos justificar os meios. Esse tipo de conquista traria avanços imensos à medicina, por exemplo. Mas então qual seria o fim disso? A imortalidade?
A verdade é que ninguém quer topar consigo mesmo caminhando por aí, tampouco dizer que nasceu num laboratório. Seria correto interferir em tudo dessa forma? Não temos esse poder. É só parar e observar o que fizeram aqueles que pensaram ter a decisão da morte nas mãos. A sociedade atual é imatura e inconsequente; por mais que esses pareçam passos insignificantes ou simples, é desse modo que se começa. Não estamos prontos para decidirmos entre a vida e a morte, sabemos disso e ainda assim agimos cruelmente e não sabemos até onde chegaremos nesse ritmo. O ser humano não é tão racional assim. O medo da morte existe e está nos cegando. Só que no fim optaremos espontaneamente por uma vida finita e cheia de riscos, a fim de aproveitá-la mais intensamente. Ninguém vai querer viver no mundo que está por vir. Não eu.

3 commentaires:

  1. Eu tenho cada vez menos esperança de deixar alguém para seguir com a minha vida, como um filho ou coisa do tipo.
    É desesperador a quantidade de coisas sendo feitas e a quantidade de inutilidade lançada nas nossas caras à todo momento. A quantidade de discussões e implicações desse tipo de pesquisa é infinita, e eu também não quero estar aqui para ver o mundo do futuro, eu só queria deixar um lugar melhor para uma futura filha viver. Soa improvável.

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  2. Muito interessante o post.

    A questão da racionalidade do ser humano pra mim é o ponto central.

    Sim, a tecnologia e a ciência avançam em uma velocidade incrível e tendem a conquistar mais e mais realizações, "brincando de Deus" podem e possivelmente farão muitas coisas.

    Mas onde é que está a verdadeira vida?

    O ser humano possui, intrinsecamente ligado à ele, uma irracionalidade, mas não na questão de burrice ou coisa parecida, mas sim na questão subjetiva da coisa, paixões, erros e desilusões fazem parte da vida, o amadurecimento, as conquistas e cada pequena reminiscência são coisas que não podem ser substituídas, coisas que ninguém nascido em laboratório terá.

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  3. Diga-se de passagem, atualmente essas discussões estão causando grandes abalos na área de embriologia. Há alguns anos atrás um japonês foi submetido a um tratamento com células tronco pois havia perdido uma grande parcela de massa encefálica. Pode haver incompatibilidade genética pois o DNA das células são de outra pessoa, da mesma maneira que um orgão pode ser incompatível. Além disso ainda não se sabe exatamente no que essas células podem dar origem. O resultado foi que esse indivíduo morreu algum tempo depois do tratamento e em sua necrópsia encontraram dentes, cabelos, olhos em seu cérebro. Algum tempo depois disso, chineses surgiram com uma solução. Como na China o aborto é livre e basta marcar um horário em uma clínica, eles resolveram então clonar a si mesmos, retirar tudo que fosse necessário do feto para tratamento e logo depois abortariam, até por que a clonagem humana até então não é perfeita, é seguida de anormalidades. A pergunta é, quantos clones de você mesmo você teria que matar para melhorar sua vida, para poder viver um pouco mais ? Já não seguimos mais a ordem natural das coisas, a todo e cada momento novas maneiras de driblar o processo natural de morte do nosso organismo surgem. Processos esses que deixam de lado códigos morais...
    Mas é claro que é todo esse poder científico de brincar com vidas que a torna as vezes repugnantes, porém a ciência poderia visar outros tipos de melhora, como maneiras sustentáveis, erradicação da fome no mundo e assim por diante. É um assunto complicado, ainda mais para alguém que está no meio científico como eu.

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