samedi 24 juillet 2010

Reflexões, reflexos...


Os livros são como espelhos: neles só se vê o que possuímos por dentro.
        Não, ela já não se lembra do autor, mas sabe-se que essa frase, lida há muito tempo, a chocou um pouco. Talvez por toda a verdade contida nela, ou não... É verdade que os livros são portais encantados que levam a cômodos secretos da própria mente de quem lê; é neles que se vêem pensamentos desconhecidos para quem os pensa, é neles que se encontram, colocados em palavras, os sentimentos mais profundos de quem sente. Ela se surpreendia em como aquelas palavras que tanto se esforçava por encontrar e por em ordem se mostravam tão bem colocadas nas páginas de seus livros, tão facilmente encaixadas, e significando tão perfeitamente suas idéias como ela jamais se veria capaz de fazer. Ela se sentia triste por nunca conseguir que as palavras lhe obedecessem, e se espantava com o modo como elas conseguiam dizer tudo o que ela queria, e muito mais, quando usadas por outros. Como puderam roubar-lhe as idéias sem que notasse? Como podem esses simples livros guardar todos os seus sonhos?
           Mas, ela parou pra pensar e... esses livros jamais lhe seriam como espelhos. Eles eram mais... eram a única coisa capaz de preencher os espaços vazios de sua mente, cada canto e cada vão, por menor que fosse. Eles clareavam os caminhos ocultos e lhe mostravam passagens pelas quais ela nunca havia passado. E por mais livros que tivessem lido, sempre cabia mais, eles não ocupavam espaço. Ela então descobriu a comparação perfeita. Livros eram Luz. Eram os livros que a completavam. E ela buscava neles todo o sabor de que sentia falta em sua vida. Quando lia absorvia tudo. Ela sofria, chorava e ria, assim como aqueles que estavam presos às páginas, e trazia-os ao mundo real. Fazia seus aqueles sonhos e objetivos, mesmo que já soubesse se seriam ou não alcançados. Os livros a tiravam da monotonia da realidade, pois nos livros ela se perdia nas aventuras pelas quais jamais passaria, realizava os seus sonhos sufocados, sentia as dores que não podia demonstrar e vivia os romances que lhe proibiam; neles, amou os amigos que não teve e mergulhou em paixões impossíveis. Nos livros ela conheceu a vida em sua essência, aquela vida que começaram a lhe tirar desde o seu primeiro passo.
         Ela não sentia como se vivesse, apenas sentia uma existência estranha, esgotando-se. Então ela aprendeu a sugar dos livros até as idéias mais profundas, para lhe darem força. Pois a realidade ensinou-a a não sentir. E ela não aprendeu. Tiraram-lhe então o que sentir, tiraram de sua existência todo o brilho e a emoção, todo o gosto e o ânimo. Então nos livros roubava sentimentos que não eram seus, apenas por saber que a vida jamais lhe despertaria sentimento algum. Com o tempo, aprendeu a sentir cada letra e cada vírgula; e para cada livro que terminava mandava embora um pedacinho de sua alma, mandava-os todos para Valinor, onde seus sonhos nunca morreriam, onde seria para sempre livre.
              Onde sentiria-se eternamente viva.

4 commentaires:

  1. Não gosto de discordar de você, minha cara. Portanto irei simplesmente expressar um ponto de vista distinto. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.
    Os livros não são espelhos.
    Os livros são como janelas. Conforme olhamos podemos nos ver refletidos no vidro. Se prestarmos mais atenção podemos perceber o mundo que se abre do outro lado. A luz é a nossa capacidade (ou a falta dela) de compreender o que está do outro lado e o que está refletido. Assim como a luz, nossa capacidade pode ser desmembrada em diversos tons diferentes. Algumas pessoas simplesmente não enxergam alguns tons. Outras confundem cores. Algumas insistem em ver o mundo constantemente em preto e branco. Mesmo dias chuvosos, que insistem ser cinza, possuem sua beleza. Tudo depende de como e de quem vê.

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  2. Bem, diferente do cara acima, eu concordo com o que você disse, não para puxar o saco nem nada, mas por um motivo em especial...
    Eu não sei se você já leu o 1984, do George Orwell. Se não, aconselho que leia.
    Mas o que interessa é que em uma passagem desse livro ele diz que quando abrimos um livro, não estamos buscando um mundo inteiro novo, estamos vendo aquilo que já sabemos, e não expressamos, mesmo que dentro de nossa mente... O livro é o gancho que traz as palavras para os nossos sentimentos, para aquilo que já sentimos. Algumas vezes coisas novas juntas a essas, mas nunca um inteiro de sentimentos distintos de tudo que já sabemos, quase sempre uma corrente.

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  3. Nem janela, nem espelho.

    O livro é por si só, e pode representar uma janela para alguns e um espelho para outros.

    O essencial é que independente dessa interpretação os livros nos transportam pra longe daqui, neles estão contidos tudo o que é nosso (ideias, sonhos, questionamentos....) e ao mesmo tempo ele nos traz coisas novas e inesperadas, essa dualidade talvez reflita um pouco o próprio ser humano.

    Enfim, o livro é um instrumento muito poderoso, que pode ter um alcance infinito.

    Interpretações a parte, gostei muito mesmo do último parágrafo Marô! Parabéns pelo texto!

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  4. Bom, na condição de seu irmão eu acho que te conheço um pouco mais que os outros que comentaram antes de mim, então eu acho que te conheço o suficiente pra dizer que esse foi um retrato perfeito de seus sentimentos e sua forma de vida. O texto ficou ótimo, as idéias nele contidas estão muito bem expostas. Apesar de eu não ler tanto quanto você eu acho que essa definição e esse sentido que você deu ao livro são perfeitos. Cada um enxerga coisas nos livros de acordo com o seu verdadeiro 'eu', por isso cada um tem diferentes interpretações e opiniões sobre isso...

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