mercredi 14 octobre 2015

Estocolmo

Solidão, Vanni Jung Stahle
Todos os lugares o ameaçavam com a velocidade, e as pessoas que rolavam sem cessar atropelavam a música que trazia. Seu mundo era uma besta voraz e seus bolsos tornavam à casa sempre mais vazios. Vez ou outra se perguntava como é que ao fim de cada dia não havia mais do que poeira em sua mochila, quando a cada manhã, sob a mesma monotonia, ele a estufava de tons e notas para sobreviver mais aquela vida.
Hoje é um dia qualquer e novamente sem pensar lançou seu fardo às costas. Nenhum sinal aberto, nenhuma passagem livre, nenhum corredor vazio, ele apenas segue a fila para uma viagem que não planejou, cortando filas, pulando cercas, ultrapassando pelos vãos pois que tem pressa de tornar ao pó no fim dessoutro dia. Ele... ah! Ele adora ser devorado!

É preciso deixar de ser pedra, tábua rasa de um deus tolo. Migalhas não são coisa que se coma quem almeja as ondas. O perigo de flutuar, é evidente, é estar à mercê das correntes. Não se joga ao mar quem não nem pernas para nadar - ele não consegue conceber. Do casulo quente saem quais borboletas todos aqueles que não sabem ter braços - que não sabem ter asas. É tão inútil ter olhos.

Ele furou outra fila. Do ônibus, da rua, do sinal. Ele chegou antes para poder esperar. Ele é incapaz de apreender o paradoxo de se esmigalhar para edificar. Todas essas morais... Eram apenas letras que as gentes aceitam para não parecerem desentendidas. Ao menos se... Parou. Virou seus sonhos de cabeça para baixo até esvaziar a mochila na calçada. Seus poucos centavos nunca a tocaram, esfarelaram-se na saída.
O que era real?
O tempo era câmera lenta, e ele não parou para vê-lo. Onde estava, pôs-se no chão e cavou-se. Não poderia dizer qual dos sopros levou o órgão vital. Só sabia que não se constrói uma vida com pedaços. No entanto, o que resta de inteiro?
Sem mover-se, fez-se a noite, e não esperou nem desesperou. Renunciou. Razões não há para caminhar, razões não há para voltar. Ele não entende esses que dirigem sem abrir os olhos. Ele não sente mãos guias nas suas costas. Ele duvida de quem sente. Do que funciona. Ele duvida da transitividade do mover. Ele duvida da intransitividade da mesma forma.
Mas hoje ele tem o destino das coisas quando não se as olha. Como seria cair bem no meio do jogo? Ali no escuro ele sente o mar quente que o afogara um dia e o ama com palavras. Uma roda qualquer torceu os sonhos que jaziam na calçada depois que ele se foi, desapossando-se envergonhado de suas migalhas edificadas.
Encarou os ramos ondulantes à sua frente e soube ser o único caminho. Preferiu ficar e se queimar no mar. Razões não há para entrar
na floresta.

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