lundi 1 décembre 2014

Tyrius



Ele tinha pés pequenos, o nariz achatado , o corpo robusto, e trazia um largo chapéu. Nas mãozinhas, as únicas e minúsculas flores que a neve não cobria, azuis e vermelhas, e brincava com o vento que o jogava de um lado para o outro entre as pedras, apenas preocupado em não perder as flores da Donzela do Rio. Mas daquela vez ele caiu. O sol cedeu às sombras e o vento se recolheu. A água silenciou. E ele não viu mais nada.

 
PRÓLOGO

Um enorme dragão branco pairava no céu, flutuando mais silenciosamente do que o vento, que não soava mais que um sopro naquilo que era como um balão de papel navegando nas gêneses do sol nascente. Seu calor brilhava translúcido, e a ela ali mergulhava como em alvos lençóis de algodão. 
O corpo quente da terra contemplava com seus olhos cegos e respirava a suspensão do tempo, em que o céu não girava sobre si. Sem gravidades. Sem acelerações. Sem vida. Sem morte. E ansiava.
Até que sente roçarem os primeiros fios, percebe, despertando, que as engrenagens voltam, retomando seu adagio agudo. Então, abre os olhos esperando ver cometas e fogo. Não os há.

A barriga do céu fora atingida e do buraco da flecha corre seu sangue anil. Espalhavam-se dali braços desesperadas e garras que o destruíam para dentro.  Rasgado e dilacerado, o couro se esgarça e surra, perdendo as bordas como se roídas por traças invisíveis. Mas ele não sabe descer, e só consegue exibir os trapos que não pode salvar.
Seu barro árido seco duro pedia ao céu que chorasse as lágrimas que nela secaram e ela se abriu para o sal de suas grandes gotas quentes. Que nunca viriam. Dilataram-se poros e veios vindos desde o seu âmago enquanto ela chamava as flores e gritava que era passado o tempo de florescer.
Os trapos dissipados parecem incandescer e finalmente caem, sua queda dada em novelos de pequenas nuvens é um fino cristal e a chama do dragão extingue-se em neve, banha a terra de botões de gelo, queima até a necrose sua pétala rosada. Dela, que ainda não sabe chorar. E ainda o céu não chora por ela.
Só resta a água ácida desse corpo sem vida, um dilúvio que afoga sem saciar, que consome sem consolar. E a terra, faminta, permanecia infértil, apenas durando, enquanto o céu chovia despedaçado a morte azul de um dragão branco.


Nota: Créditos ao Dono do Vento http://sempreler.tumblr.com/archive, sem cujo sonho eu jamais teria tido a ideia para esse texto. E, claro, ao duende Tyrius, pelas flores. (:

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