vendredi 14 décembre 2012

"A Gente é Feito Pr'Acabar"

Flávia, sabia que o seu texto de Dezembro foi postado dia 14/12 no ano passado? Um ano exato.
Coincidência estranha.

"Algum dia todos estaremos mortos; mas ser, para nós, valeu a pena; é como se houvéssemos marcado o tempo e o espaço com nossos olhos; como se escoássemos sempre dentro de uma noite vazia; assim, percorremos os vahos caminhos que ainda nos restam, e eles são muito poucos. Cada vez que o dia nasce e nos fita, implacável, eles rareiam ainda mais. Contudo, são os nossos caminhos: o meu e o seu; nossas alamedas do sonho. E quando morrermos não terá sido vão, porque fomos um dia; e ser mancha, ser decompõe, modifica, ser marca a terra [...]" 
(Áiland, A CASA DO ETERNO, p.103-3)


Não direi que não fui marcada. Eu fui, e fundo. Não direi que nada levarei, porque eu me lembro de cada detalhe. Mas eu não diminuiria a distância se pudesse. Não existem responsáveis. É.
O que quero dizer é que também aprendi, também abri janelas a outras verdades, e ao reconhecimento de que o meu certo e o meu errado não serão os únicos; e que, se a felicidade do outro é uma mentira pra mim, eu sou a única atingida. Aprendi que a verdade não é maior do que nada e que antes vivêssemos no escuro. Que sair da caverna apenas fere os olhos, enquanto, lá dentro, a vida começaria e terminaria sem que nem mesmo desconfiássem. O que perdem com isso? Nada.
Só que essas amarras de repente me incomodaram. As suas amarras. Essas palavras que parecem virar compromissos. Esses sentimentos que de repente se tornam fardos. Olhem só para vocês! Não é assim que tem que ser.
Isso é o que eu gostaria de não guardar:


LIVE AND LET DIE

A eternidade é pesada demais, não importa quantos a suportem com você. Na verdade, em se falando do eterno, quanto mais pessoas, pior. Por que é tão difícil aceitar que tudo acaba? Mais: é o fim que dá sentido às coisas - mas vocês não percebem. Hoje eu vim falar como uma velha, alguém pretensamente diferente, que está sempre a um pé de distância. Porque, no fundo, foi o que eu sempre quis dizer.
A medida em que badalam, os pêndulos esmagam coisas contra as paredes. Inclusive pessoas. Pense nas velhas músicas, em filmes e imagens, em como se tornam dolorosos depois de um tempo. Pense em como chega a repudiá-los. Sabe o que é? Tudo muda, cada detalhe muda, deixando aquilo que um dia agradou. E, se insistir, você apenas se culpará todos os dias por as coisas não serem mais as mesmas. - Como se você tivesse o poder de deter o tempo! Nós sempre acreditamos que "comigo vai ser diferente". Aprenda: não vai. Você também vai passar. E ficar só tornará em ruínas os antigos templos.
É por isso que cada adeus deve ser dado na hora certa. Se demorar demais, apodrece. Talvez seja um exagero, mas não acredito nisso. Estive aqui desde o princípio, muito antes da maioria, e nada mais é o mesmo. As pessoas, os modelos, os sistemas, até as construções físicas passaram - as escadas e portões foram migrando de semestre em semestre. Os espaços que tomei por meus simplesmente me fugiram e, se antes eu reconhecia até os sons do vento, hoje já não identifico nem ao menos um rosto, quanto mais as vozes deste lugar. Nada mais me é familiar. Deslocada, nunca mais me senti em casa como em outros tempos.
Tudo o que sou se deve ao que aqui, um dia, existiu, tudo aqui faz parte de mim. No entanto, eu já não sou parte dele. Eu fiquei distante demais - ele pode seguir sem mim. E sem qualquer um de vocês.
É por reconhecê-lo que eu ouso me dar o direito de conselhos frios. O melhor que as coisas podem fazer é acabar. Seria como guardar uma foto velha e no fim ter apenas pó e pedaços carcomidos nas mãos. Deixe-a ir: antes perdê-la sabendo que em algum lugar ela estará - inteira. Que seja na memória. Seria o extremo do insuportável se ver mudar, divergir e perceber que só as mesmas velhas piadas são contadas, enquanto você tenta acreditar que ainda pode rir delas. Mas, se só pode sobreviver com as tais velhas piadas, é porque a felicidade ficou no velho, e vocês não se conhecem mais.

Talvez seja arrogância, ou seja frieza mesmo, ou nem imagino qual o adjetivo dessa vez. Apenas é nisso que acredito, é isso o que esperava que soubessem.
"Corações frios não podem inflamar outros para que lhes dêem calor em suas indas e vindas." Mais uma das coisas que aprendi com Tolkien. A essa altura, não cabe a mim tentar comover qualquer um, jamais tive esse direito, tampouco o tenho agora. É que quando presto atenção e vejo todos satisfeitos nessa ilusão, eu apenas os deixo - como se eu guardasse um segredo decidindo, no fundo, ser melhor assim. Arrogância, pretensão? Sim.
De qualquer forma, agora vocês sabem. Vocês deram e receberam o "adeus final" - então, agora, espero que acreditem. É realmente melhor assim. Não ignoro a dor, só que temos que sangrar para poder curar. E logo não vão mais notar. Vão dizer que não, mas sabem que sim. Não tornem as coisas mais difíceis para vocês mesmos.
O mundo deve seguir adiante. E nós também.

"I'm not sure that I'm right,
But I hope you understand."

2 commentaires:

  1. Texto perfeito, pensa da mesma forma que eu '-'. Não adianta negar o tempo, ele passa e passa rápido, e logo todos passarão, claro, uns mais cedo que outros. No entanto, é o fim que dá razão como você disse. Caso contrário muitas coisas perderiam o valor, pois as teríamos sempre e sempre encontraríamos desculpas.

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