jeudi 26 janvier 2012

Poeira

E poderia ser mais simples e menos doloroso. Um vento forte sopraria e então tudo seria levado. As palavras voariam do papel sem deixar marcas, cada letra se soltaria numa onda,pairando, por instantes, ao nível dos olhos, para então ser arrastada até perder-se de vista no horizonte. Suave, imperceptível. Nem sombra ficaria e o que agora é passado pouco importaria. À exceção daquele pequeno instante em que flutuou, dançando ao sabor do vento num grave vai e vem, um último rodopio para marcar a passagem. Restaria, então, apenas essa imagem - um relance, uma fração dessas que vez por outra nos caem na cabeça com aquele baque surdo antes de dormir, trazendo sonhos... e perdendo-se de novo.
Contudo. Não. Ele é mais cruel do que isso. Nada sutil, por que isso não é dele. O Tempo não apaga, ele esfrega com força, borra a tinta, amassa o Papel. Faz nele rasgos e dele farelo.
(00:04 ; 12-13/Jan/2012)

2 commentaires:

  1. A vantagem é que isso garanta, por mais que doam os rasgos, que a gente sobre com alguma coisa pra se lembrar, e pra saber se certas coisas vão dar certo ou terminar em mais borrões.
    Desculpa se não foi esse o objetivo do texto, ele ficou mesmo muito bonito e bem escrito como sempre, mas essa frase estourou na minha cabeça...muito bom mesmo

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  2. ''O Tempo não apaga, ele esfrega com força, borra a tinta, amassa o Papel. Faz nele rasgos e dele farelo.'' MAIOR VERDADE, sem mais.

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