dimanche 4 décembre 2011

Desencontro




           Havia uma cortina após a janela, enchendo toda a paisagem de riscos brancos e rápidos que, levados pelo vento, rodopiavam como se dançassem. As árvores inclinavam-se bebendo as gotas pesadas e tombando sobre os muros. E o chão cintilava, como milhares de estrelas cadentes caindo sem cessar, criando florezinhas brancas com suas pequenas explosões. 
            Pela rua, uma onda suja avançou com força e começou a inundar a volta das calçadas, num som de rio sobre pedras. As mesmas mínusculas gotas que misturam-se à tinta borrando de vermelho rosado a alvura do papel engrossa a corrente lá embaixo. Esta empurra uma garrafa plástica - resto de gente -, que é levada veloz, virando ao bater nas falhas de relevo entre as pedras do pavimento. Por fim, encontra o meio-fio e vai guiando-se pela enxurrada que o cerca, ali acelera para rapidamente perder-se de vista, descendo rolando na espuma acinzentada. 
           Quanta coisa a água leva. Quanto haverá que nem se sabe? Pessoas? Lembranças? Um soldadinho, talvez? Sim... Havia algo perto disso. Terá passado ele tão rápido e despercebido, aos trambolhões, como aquela garrafa? Quem sabe por entre as saias brancas dos botões estourando na calçada à melodia da chuva estivesse dançando uma bailarina.
             A sua bailarina.
(26.Nov.2011 ; um sábado chuvoso, em algum lugar de Alfenas.)

2 commentaires:

  1. Nossa. É sério, preciso aprender a escrever igual a voce. Me dá aula? É demais, dá pra sentir a chuva...

    Alfenas é? Fazendo o quê se me permite? Meu cunhado estuda lá hahaha.

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  2. Belíssimo texto Maria Eugênia. Você tem muito talento, siga escrevendo, precisamos de outras Clarices e Alices nesse país. Abraço.

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