dimanche 14 août 2011

Outra Noite de Apagão

Sinos tocaram. Cães latiram distantes. Daqui posso ver o Cruzeiro. Apago a luz. Para enxergar melhor.
Eu fecho os olhos, e a cada vez que os abro mais estrelas surgem para me saudar. Pouco a pouco elas vão ficando mais brilhantes, mas ainda tão pequenas... O céu de hoje está tão pálido. Claro, muito claro, e de um azul opaco. Na verdade, nem mesmo sei se é azul. Senti falta daquele escuro profundo, aquele abismo misterioso e encantado que nos puxava para cima. O céu de hoje está raso e transparente.
Com o tempo minha vista se embaça e perde o foco. Eu vejo as estrelas de longe, mas já não posso fixá-las. É como se fugissem. Hoje elas não estão imponentemente belas como devem ser. Estão tímidas. Inseguras. Nada confiantes... Olhando-as, pela primeira vez me pergunto se cairiam, e me pergunto como conseguem se sustentar nessa abóbada. Elas oscilam e eu começo a temer que elas possam despencar a qualquer momento.
Eu desejei tocá-las para saber se eram reais. Pegá-las na queda, protegê-las, enchê-las de cuidados e afastá-las do que quer que as esteja colocando medo e receio. E então eu quis jogar um véu sobre o céu para que se sentissem seguras dos olhares fúteis e das poesias superficiais.
Quis trazê-las para casa. Cuidar delas. Quis pintar o céu de tristeza, saudade e paixão. Quis encontrar a lua afugentada e pegar-lhe pela mão. Polí-la e dar-lhe o brilho dos diamantes, o frescor da brisa que antecede o amanhecer e a tranquilidade do mar sem ondas.
Mas às estrelas, meus bebês, eu dispensaria os maiores cuidados. Eu as esperaria crescer de novo até que voltassem a voar para poder se erguer no espaço, ocupando o lugar que é delas por direito. Eu cuidaria para que novamente trouxessem com elas a luz que consola, o frio que acalma as almas, a beleza que fascina os corações...
Então, e só então, eu pediria às luzes que se apagassem de novo para que eu pudesse contemplar o espaço em seus completos esplendor e majestade. Deixaria que a brisa fria da noite levasse meus lamentos, ensinaria meus olhos a de novo brilharem como as estrelas e faria da umidade neles a libertação de meus medos e receios, enquanto meus pulmões se alimentariam profundamente de tranqulidade.
E me sentiria livre e tranquila.
E eu poderia voar.
E elas me levariam pela mão.

1 commentaire:

  1. Fazer apagão virar poesia é coisa sua mesmo! Essa outra noite de apagão, outra vez me agradou muito, texto muito bacana, mademoiselle!

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