vendredi 20 juin 2014

Life Shield

[Take Me Away, KatePowellArt]


O que quer que se chame vida cai para o banal quando nada faz diferenças. O tanto fazer, quanto maior, mais intangível o torna para as coisas do mundo. É só.
As coisas deixaram de ser: o raio de sol, seu grito, teu riso, meu desejo. Se pudesse nomeá-lo, esse estado seria o de imunidade. Imunidade à vida.

Sem consciência das correntes que se moviam pelo interior, nos lençóis freáticos de minh'alma, a indiferença tomou dimensões imensuráveis, e não notei o, a princípio, toque do ponto extremo, seguido do abraço e das algemas. Não o notei, até que houve sangue em minhas mãos, e rastros de cabelos cobrindo minhas pegadas, e ossos quebradiços lascando-se e me rompendo a pele. Naquele instante enxerguei, e desalienei-me, e vi claro tudo ao chão. Não imaginava o quanto tudo se pudesse tornar vão, o quanto o tédio poderia dominar uma existência, porque em mim havia apenas abandono. Até que, de um repente, havia eu mesma sido largada para trás.

Foi então que meu riso ficou fácil, e foi por isso que minhas lágrimas também. Porque desde aquele então meus olhos nunca mais miraram minhas próprias estruturas, e não viram a ferrugem, o mofo e a umidade a arruiná-la e desabá-la. Desde aquele então, calei o mundo e o fiz me esquecer, e me fiz evanescer, e em toda a minha ilusória realidade nem vislumbre dele restou.
Por último, murmurei um adeus e fechei os olhos ao espelho.

Naquele dia, tudo acabou com um murro e então cacos.

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