mercredi 12 octobre 2011

Terra do Nunca


"Eu fui matando os meus herois..."

Cresci escolhendo ídolos. Tranformando cada um ao meu redor, um a um, em rainhas calmas, porém sábias, em cavaleiros armados, em nobres samurais, em justiceiros que jamais abandonavam seu orgulho, em donzelas de coração e mente simultaneamente fortes e ternos. Eram meus exemplos, meus objetivos, meus herois. Eram os meus Caçadores de Dragões!
Mais do que figuras, cada pessoa dessa era aquilo que eu tirava de meus mergulhos literários e trazia à tona quando voltava para tomar fôlego. Tornei-as em minha realidadezinha particular. Frágil e inocente. Incontivelmente encantadora.
De repente deu-se um nó em meu estômago, meus pulmões doeram, dei um impulso forte demais para a superfície. Recebi aquela explosão de ar puro. Real demais, a ponto de embriagar. Eu cresci. Abri olhos e ouvidos. Eu abri minha mente e me permiti ver o que havia de verdadeiro naquilo que criara para mim. O chão tremeu sob meus pés, as estalactites nas grutas se desprendendo e uma nuvem de poeira cobrindo tudo. Minhas donzelas determinadas caíram e rainhas imponentes perderam a compostura. Meus cavaleiros sangraram por trás de suas armaduras. Meus samurais perderam a honra e meus justiceiros deram as costas à impunidade.
E eu os vi. Todos. Desmoronados. Dissolvidos. Derrotados.
Eu os vi desistir. Os meus exemplos. Os meus herois.
Eu suportava vê-los feridos, eu aceitava suas lágrimas. Há inimigos mesmo fortes - eu sei. Serpentes e Dragões. Feiticeiros e falsos reis. Mas meus ídolos de tinta não abandonavam seu orgulho, não desistiam do que amavam, pelo contrário, defendiam-no até a morte. E mesmo quando abandonavam a batalha, eram nobres e altivos.
O que eu não suportava era vê-los mentirosos. Era lutarem do lado errado do campo. Era combaterem a si mesmos. Isso são os vilões: os hipócritas sem princípios. Os desvirtuosos e indignos. Os sem honra. Isso não era para os herois... Não para os meus.
Então, aos poucos, eles foram borrando. Eu os enxerguei cruamente. Sem armas. Sem fogo. Sem vestidos longos e coroas. Sem brasões e estandartes. Sem promessas de retorno ou palavras honradas. Sem cabelos brilhantes e diamantes nos olhos.
Eles eram... apenas... eram. Humanos.
Erro deles? Não. Errou meu? Não sei.
Crescer talvez seja isso... Tirar a paixão das coisas, as máscaras e o deslumbre. É perder a paixão. E também perder as coisas. É retirar as estacas dos vampiros e cravá-las nos caçadores. Crescer é desacreditar. Nos heróis - sempre incorruptíveis. E nos homens - nunca tão íntegros assim...
Sempre vítimas. Sempre vilões.
Crescer é nunca mais voar no dorso das águias. É não voltar a ver dragões...

1 commentaire:

  1. Crescemos...amadurecemos...mas todos esse heróis, princesas e dragões ainda permanecem vivos no fundo escuro do nosso coração, e quando fechamos os olhos e sonhamos eles aparecem pra nós mostrar que a nossa criança interior jamais morrerá!
    Lindo texto Marô!!!!

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