O céu se está rasgando sobre os pilares de madeira, e os respingos finos produzem um leve ondular das poças sobre o cimento. Por dentro não há dessa terra, terra vermelha que se umedece sem tornar-se em mistura lamacenta, fazendo com que as folhas caídas se lhe mesclem, e também as raízes grossas dos troncos maiores. Mesmo dos mais esguios saem fios delgados e sinuosos, entrando e saindo do chão, assemelhando-se a um enorme sistema circulatório com muitos metros de área ao entremearem-se nos bancos ali dispostos. Nos bancos e mesas frios as gotas caem e saltam alto, até que são, inevitavelmente, bebidas pela terra. Aquela mesma terra, vermelha.
Os corpos das árvores brilham, e mesmo assim mostram-se como secos, jamais curvam-se sob a notória superioridade da chuva, impondo-se orgulhosos em sua óbvia vulnerabilidade. Mais vulneráveis, porém, são os humanos, encurralados, a rodearem o pátio, esse mar de estrondos abalando-os mais do que as paredes sujeitas a um constante receber de trovões. E a medida que o véu se fecha encolhem-se como presos em uma malha que não os envolve, malha que é na verdade seda sobre o horizonte, a ocultá-lo do sol de verão.
E o verão aos poucos faz-se oculto, faz-se outono, diluindo o azul de seu meio-dia nas folhas que principiam a cair e quebram-se como o biscoito seco da tarde de domingo sob os pés dos sem luz. Por ironia, é na ausência destes que ela se acende e passa a iluminar essa água, essa chuva solitária que cai tristemente calma, apesar da imponência com que o céu mente, rugindo.
Ruge também um bicho acuado, cá para dentro. Não, apenas geme. Não, nem mesmo murmura. Respira fundo e só, mescla euforia e melancolia quanto cai solitário. Solitário como a chuva, em sua calma triste. Mas há luz. Há nostalgia e luz. Há calma e solidão. Apenas não ruge e não faz arco-íris, mas existe. E cai solitário, em silêncio, em horizonte sem fim, em abismo sem tom, onde chove para sempre.
Ruge também um bicho acuado, cá para dentro. Não, apenas geme. Não, nem mesmo murmura. Respira fundo e só, mescla euforia e melancolia quanto cai solitário. Solitário como a chuva, em sua calma triste. Mas há luz. Há nostalgia e luz. Há calma e solidão. Apenas não ruge e não faz arco-íris, mas existe. E cai solitário, em silêncio, em horizonte sem fim, em abismo sem tom, onde chove para sempre.
06, Março, 2013
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