Com a dor do cansaço, pensou. O réptil pensou na própria ingenuidade, pensou na vantagem do mamífero e em quão longa era a distância. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram. Mas ele engoliu e correu.
Quando venceu, todos já sabiam.
Sentindo o fogo arder, pensou. O garoto pensou no que aconteceria à irmã, pensou na força da velha e no quanto eram pequenos com suas migalhas abandonadas. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram. Mas ele engoliu e a empurrou para o forno.
Quando retornaram, todos já sabiam.
Sob os olhares frios, pensou. A empregada pensou no provável fracasso, pensou no castigo e em todo o desprezo. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram. Mas ela engoliu e calçou.
Quando venceu, todos já sabiam.
Sentindo o fogo arder, pensou. O garoto pensou no que aconteceria à irmã, pensou na força da velha e no quanto eram pequenos com suas migalhas abandonadas. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram. Mas ele engoliu e a empurrou para o forno.
Quando retornaram, todos já sabiam.
Sob os olhares frios, pensou. A empregada pensou no provável fracasso, pensou no castigo e em todo o desprezo. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram. Mas ela engoliu e calçou.
Quando o sapatinho serviu, todos já sabiam.
Pressionando a chave gelada, pensou. A esposa pensou nas proibições expressas, pensou que não era a primeira e em todos os outros destinos desconhecidos. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram.
Quando o azul se tingiu de escarlate, todos já sabiam.
Inspirando o cheiro molhado, pensou. A jovem princesa pensou que poderia
não haver transformação alguma, pensou na repugnante massa verde à sua frente e em todos os protozoários nessa água. Seus olhos se encheram de lágrimas e riram.
Mas ela engoliu e beijou o anfíbio gelado.
Quando ele virou
príncipe, todos já sabiam.
Com o sangue
secando na pele, pensou. O príncipe pensou em toda a mata espinhosa a cercá-lo,
pensou na feiticeira e que o sono poderia não acabar. Seus olhos se encheram de
lágrimas e riram. Mas ele engoliu e avançou pelos corredores.
Quando ela
acordou, todos já sabiam.
Vendo o tempo acabar, pensou. A rainha pensou no desgosto do rei,
pensou na culpa pelo próprio filho e em todas as tentativas falhas. Seus
olhos se encheram de lágrimas e riram.
Quando o nome foi dito, todos já sabiam.
Sem nenhum rastro de esperança, pensou. Pensaram. Reis e
aventureiros e princesas e camponeses – todos pensaram em como eram fracos,
pensaram em todas as cicatrizes que carregavam em si e que deixaram por onde
passaram, pensaram no tempo ruim, pensaram na imensa armada inimiga. Pensaram na terra de ameaças à frente, nas espadas os apontando e na vida - ou morte - dos que ficariam. E à medida
que seus olhos marejaram, o mundo debochava de cada um deles.
Eles poderiam ter engolido e anunciado que partiriam, e mesmo assim ninguém
cantaria o quanto foram sábios ou como fizeram a escolha mais sensata.
Mas eles decidiram engolir e seguir adiante - o que nenhum desses cantores teria feito em seu lugar. Triunfaram e, para
cada vez, é claro, o mundo inteiro já sabia que o fariam.
Ninguém, nunca ninguém perguntou se eles sentiram medo.
NOSSA, pqp, meu deus Maria Eugênia. Esse é meu favorito, eu tenho quase certeza, meu deus que maravilha. Você é uma artista, de verdade. Isso tá perfeito demais.
RépondreSupprimerLINDO!!!
RépondreSupprimerSó posso repetir que esse também ficou sendo o meu texto favorito, e eu tenho certeza disso *-*
Vou ter que ler de novo, a pancada foi forte. Parabéns Marô.
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