mercredi 26 janvier 2011

Conformismo


"O que importa não pe o que fizeram de nós, e sim o que fazemos com aquilo que fizeram de nós."
J.P. Sartre

A vida em sociedade nos molda inevitavelmente e, quase sempre, só o percebemos tarde demais. Grandes pensadores, durante todos os séculos - desde épocas além de nossa memória-, falaram, escreveram e questionaram nosso papel como homens. A História é marcada pelos nomes de grandes revolucionários, dos bravos que se levantaram na tentativa de provar que o modo em que as civilizações se desenvolvem não é o natural, tampouco o ideal.
Invariavelmente eles fracassaram. Não suas ideias, mas cada um deles como indivíduo. Alguns foram reprimidos, outros desistiram, e houve aqueles que se fizeram ouvir e alcançaram seus objetivos, pequenos ou grandes - conquistando seu espaço na História do mundo. Mas foram essas conquistas valiosas o bastante para valer o sofrimento por que passaram?
Porém, a covardia humana não nos permite deixar os extremos, aprendemos que há apenas duas trilhas a serem seguidas, e que escolher entre elas é simplesmente escolher entre duas sentenças de infelicidade: A desilusão do Conformismo, onde se aceita que agir é inútil e que não há nada que se possa fazer; ou a revolta que leva ao desafio e à Guerra, onde se pensa que só o barulho e a violência nos levarão a algum lugar. Somos ensinados de modo a pensar que não temos escolha, pois não vale a pena arriscar tudo em nome de um ideal vão e abstrato. Aprendemos a refutar qualquer mínima idéia de atitude contra tudo aquilo que sabemos que pode mudar. Sufocamos nossa sede de mudança, nossos sonhos de criança do mundo perfeito, onde todos os dias eram dias de sol, onde o arco íris viria sem a tempestade. Só que nós crescemos, e esquecemos de tudo isso...
Mas basta abrir os olhos, então percebemos que o fanatismo - para qualquer lado - é ilógico e inútil. Surge a noção do conformismo sem covardia. Pois não dá para fugir da realidade e negar que há limites e moldes, e se torna claro que cabe à nós, dentro dos limites impostos, fazermos o melhor que pudermos com molde que nos deram. Cabe a nós mudarmos o meio, fazendo o possível com aquilo que fizeram de nós.

4 commentaires:

  1. Escrito com uma lucidez cativante, que nos remete a olhar para dentro de nós mesmos!!!!

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  2. Porque se a gente conseguir mudar um pouco que seja alguma coisa, já é uma vitória, pois essa coisa pode inspirar uma pessoa que tenha mais poder e que possa fazer algo à frente.
    É o que o Alan Moore falou da V de Vingança. Que se alguém um dia tivesse poder além poderia se inspirar e fazer algo ao ler aquilo. É o que eu espero, vai que um dia um futuro presidente vê algo que eu fiz...

    Nós somos o molde da sociedade futura, e mudar um pouco que seja dentro de nós faz diferença, porque a gente pode mudar o mundo da pessoa próxima, e fazer disso uma fissão nuclear.

    Ótimo texto.

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  3. Muito bom o texto!

    Começar citando Sartre já foi fodástico e refletir em cima depois, melhor ainda.

    Ficou muito bem escrito mesmo e já me fez viajar muito!

    Se entendi bem, a proposta do texto é um conformismo inquieto, é saber se situar dentro de algo que não tem como ser ultrapassado (que no caso seriam os limites desses nossos moldes), mas ao mesmo tempo, aí dentro, transgredir e tentar algo novo, revolucionário e, principalmente, possível.

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  4. Belo texto. Segue com bom faro os rastros deixados por Sartre. Mesmo reconhecendo e concordando com a colocação feita pelo texto, deixo aqui uma frase que exalta outro ponto dessa temática.

    ‎"When I stop trying to become something, I discover that I am everything."

    David Loy

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