Noli putare.
Zdzisław Beksiński |
O balanço era algo frágil, ela sabia,
Como grãos finos de areia brilhando sob o vento
Como gotas que estremecem ao menor movimento
Como o último vislumbre de sol engolido pela noite
Como a fração de instante entre o cristal e o chão
O teto sobre sua cabeça
As colunas sob seus dedos
Tudo ao seu redor inspirava zelo extremo -
Ela não podia correr
Ela não podia parar
Ela só podia ficar
O ritmo,
A respiração,
A sede,
O calor,
sempre constante.
Mudar não era uma alternativa
Que a única alternativa é não ser.
Ela a olhou nos olhos
Ela a encarou por um momento
Ela deu de ombros
Então,
sedenta,
ela a abraçou.
Seus pés dispararam pelo chão nublado
E o castelo todo vibrava sob seus passos
Havia fogo em suas pernas
em seu estômago
em sua garganta
em seus pulmões
E ela parou
Assim.
Simplesmente.
Naquele instante
O tempo esperou
O ar esperou
A gravidade esperou
Naquele instante apenas
No instante seguinte, o cristal tocou o chão.
Salvador Dali, Nuclear Head of an Angel |