vendredi 18 avril 2014

The smaller the minds, the smaller the world

Sem metáforas ou entrelinhas.
As mãos falharam em girar as cartas, em dobrar os lenços, em brotar as flores.
E sucedeu-se, então, o desenrolar de um universo que é como o quintal da avó, em um tempo que é sempre fim de tarde, em que a chuva é sempre quente e os amores são sempre adolescentes. Na etiqueta avisam "frágil ao lavar, 100% sensibilidade", e todas as histórias, e todos os passos, e todas as palavras, se resumem em uma: amor. Os vidros dessa janela se chamam coração, e é tudo o que sai dessas novas mãos, antigamente desajeitadas, e dessa boca, e dessa cabeça. E todo homem é pleno, é fogo, é ferida e orgulho, é força e medo, é tristeza e desejo. Aqui não há moralismos, convenções, nem espaço para o julgamento. Aqui há humanos, fracos na sua incerteza, falhos em seus medos, firmes em seu amor. Aqui é tudo amor: das guerras aos filhos às paredes descascadas ao galos de briga às liteiras à peste ao dinheiro à miséria ao jornal à cartas a cada suspiro dos reis aos escravos.
Salve.
De um em um, os Humanos se vão extinguindo.
Dali envia as Formigas.
E, enquanto isso, nesse universo todos sonhamos Remédios, e aguardamos serena e intensamente, tanto aos 90 como quando aos 20

, o tempo de voar desta terra dura, para um navio interplanetário de onde possamos ver o pôr-do-sol e ter a certeza de que não foi vão.

[Memórias de Minhas Putas Tristes, G.G.Marquez]



[Gabo]


mardi 8 avril 2014

Sorceress

[The Eclipse, Liza Corbett]

Ela traz os olhos injetados
Inchadas veias de uma embriaguez qualquer
Ela traz a pele esfolada
E passos mancos sem destino algum
Ela come os sonhos que ninguém mais quer
Ela bebe a dor dentro de cada um.

Ela traz os braços tão atados
Que, à mostra garras de outras perversões,
Ela delira pulsos decepados
E dedos inúteis que fingem dançar
Ela dorme o medo sob os seus colchões
Ela, então, cala o choro e morre de sangrar.



[08.Abril.2014]

jeudi 3 avril 2014

Versos Encarcerados


Aproveitando a deixa, deixo Alex Polari.

"Um sentido totalmente diferente de existir
se descobre ali,
naquela sala.
Um sentido totalmente diferente de morrer
se morre ali,
naquela vala.

Eles queimaram nossa carne com os fios
e ligaram nosso destino à mesma eletricidade.
Igualmente vimos nossos rostos invertidos
e eu testemunhei quando levaram teu corpo
envolto em um tapete.

Então houve o percurso sem volta
houve a chuva que não molhou
a noite que não era escura
o tempo que não era tempo
o amor que não era mais amor
a coisa que não era mais coisa nenhuma.

Entregue a perplexidades como estas,
meus cabelos foram se embranquecendo
e os dias foram se passando."
[Canção para Paulo, a Stuart Angel]



"Depois a situação foi melhorando
e foi possível até sofrer
ter angústia, ler
amar, ter ciúmes
e todas essas outras bobagens amenas
que aí fora reputamos
como experiências cruciais."
[Os Primeiros Tempos de Tortura]


[Alguns versos a mais: