lundi 25 mars 2013

Lá e De Volta Outra Vez




" 'There lies the woods of Lothlorien!' said Legolas. 'That is the fairest of all the dwellings of my people. There are no trees like the trees of that land. For in the autumn their leaves fall not, but turn to gold. Not till the spring comes and the new green opens do they fall, and then the boughs are laden with yellow flowers; and the floor of the wood is golden, and golden is the roof, and its pillars are of silver, for the bark of the trees is smooth and frey. So still our songs in Mirkwood say. My heart would be glad if I were beneath the leaves of that wood, and it were springtime!' "
(In: The Lord Of The Rings, vol.I, The Fellowship Of The Ring)


Encarar faces pálidas no Pântano dos Mortos, sufocar sob o sol das planícies de Mordor ou encurralar-se sob as nevascas de Caradhras. Vislumbrar o céu espelhado em Kheled-zarâm, mergulhar no encantamento das duas Luzes que banham a Cidade dos Valar, voar sobre o vale que abriga Gondolin, a Branca, ou simplesmente deleitar-se na inocência do verde do Condado. Existe um quê de maestria que só Tolkien possui ao dar vida à sua terra, e basta uma palavra para que o papel exale o odor de sua grama, o sal de seu mar com o cantar de suas águias, e para que o passar das páginas sopre como brisa ou tempestade.
Além disso, sempre se pode visitar as crateras da Lua ou o fundo o Oceano pelos olhos do pequeno Roverandom.

A escolha recai sobre o Explorador.

Tolkien Reading Day

Em um outro tempo, em uma época muito distante, onde elfos, anões e hobbits ainda habitavam a Terra, mais precisamente, em 25 de Março de 3019, finalmente, Sauron, o artífice do Um Anel, caía. No entanto, há muito que os relatos de sua estada neste mundo se perderam, ocultos por névoas de tempo, e já poucos se perguntam o que existiu para além da Era dos Homens. 
Nesta Era, o 25 de Março é o oportuno Dia de Ler Tolkien. 
Instituída pela Tolkien Society, a data é comemorada há exatamente uma década, e é marcada ao redor do mundo - esférico já há algumas eras - das maneiras mais diversas. Para 2013, o tema escolhido é Paisagens. Não que seja tarefa pequena decidir qual o lugar mais agradável, mais surpreendente ou mais fascinante pelo qual homens de uma e outra eras marcaram seus passos. Pudesse, eu escolheria todas.



"Ali ficaram. E, se quisessem, podiam ver a luz das Árvores e caminhas pelas ruas douradas de Valmar e pelas escadas de cristal de Tirion sobre Túna, a colina verde; mas principalmente velejavam em seus barcos velozes nas águas da Baía de Casadelfos, ou andavam junto às ondas na praia, com o cabelo cintilando à luz que vinha do outro lado da colina. Muitas pedras preciosas deram-lhes os noldor: opalas, diamantes e cristais claros, que eles espalharam pelas praias e pelos lagos. Maravilhosas eram as praias de Elendë naquela época. E muitas pérolas eles ganharam por si mesmos do mar; e seus palácios eram de pérolas, e de pérolas eram as mansões de Olwë em Alqualondë, o Porto dos Cisnes, iluminado por muitas lamparinas. Pois aquela era a sua cidade, e o porto de seus barcos; e estes eram feitos na forma de cisnes, com bicos de ouro e  olhos de azeviche. A entrada para aquele porto era um arco de rocha viva esculpida pelo mar; e ela ficava nos limites de Eldamar, ao norte de Calacirya, onde a luz das estrelas era forte e clara."

(In O Silmarillion, cap. V, De Eldamar e dos Príncipes de Eldalië.)

mercredi 13 mars 2013

Arcádia



O céu se está rasgando sobre os pilares de madeira, e os respingos finos produzem um leve ondular das poças sobre o cimento. Por dentro não há dessa terra, terra vermelha que se umedece sem tornar-se em mistura lamacenta, fazendo com que as folhas caídas se lhe mesclem, e também as raízes grossas dos troncos maiores. Mesmo dos mais esguios saem fios delgados e sinuosos, entrando e saindo do chão, assemelhando-se a um enorme sistema circulatório com muitos metros de área ao entremearem-se nos bancos ali dispostos. Nos bancos e mesas frios as gotas caem e saltam alto, até que são, inevitavelmente, bebidas pela terra. Aquela mesma terra, vermelha.
Os corpos das árvores brilham, e mesmo assim mostram-se como secos, jamais curvam-se sob a notória superioridade da chuva, impondo-se orgulhosos em sua óbvia vulnerabilidade. Mais vulneráveis, porém, são os humanos, encurralados, a rodearem o pátio, esse mar de estrondos abalando-os mais do que as paredes sujeitas a um constante receber de trovões. E a medida que o véu se fecha encolhem-se como presos em uma malha que não os envolve, malha que é na verdade seda sobre o horizonte, a ocultá-lo do sol de verão.
E o verão aos poucos faz-se oculto, faz-se outono, diluindo o azul de seu meio-dia nas folhas que principiam a cair e quebram-se como o biscoito seco da tarde de domingo sob os pés dos sem luz. Por ironia, é na ausência destes que ela se acende e passa a iluminar essa água, essa chuva solitária que cai tristemente calma, apesar da imponência com que o céu mente, rugindo.
Ruge também um bicho acuado, cá para dentro. Não, apenas geme. Não, nem mesmo murmura. Respira fundo e só, mescla euforia e melancolia quanto cai solitário. Solitário como a chuva, em sua calma triste. Mas há luz. Há nostalgia e luz. Há calma e solidão. Apenas não ruge e não faz arco-íris, mas existe. E cai solitário, em silêncio, em horizonte sem fim, em abismo sem tom, onde chove para sempre.

06, Março, 2013