jeudi 26 janvier 2012

Poeira

E poderia ser mais simples e menos doloroso. Um vento forte sopraria e então tudo seria levado. As palavras voariam do papel sem deixar marcas, cada letra se soltaria numa onda,pairando, por instantes, ao nível dos olhos, para então ser arrastada até perder-se de vista no horizonte. Suave, imperceptível. Nem sombra ficaria e o que agora é passado pouco importaria. À exceção daquele pequeno instante em que flutuou, dançando ao sabor do vento num grave vai e vem, um último rodopio para marcar a passagem. Restaria, então, apenas essa imagem - um relance, uma fração dessas que vez por outra nos caem na cabeça com aquele baque surdo antes de dormir, trazendo sonhos... e perdendo-se de novo.
Contudo. Não. Ele é mais cruel do que isso. Nada sutil, por que isso não é dele. O Tempo não apaga, ele esfrega com força, borra a tinta, amassa o Papel. Faz nele rasgos e dele farelo.
(00:04 ; 12-13/Jan/2012)

lundi 16 janvier 2012

Apreciação

Estava sentada no sofá, sentindo com alívio um friozinho reconfortando vindo do vento de chuva. Sim, é claro: havia chuva, e ela sempre escreveria quando houvesse chuva, não há dúvidas. Naquela madrugada ela não fugiu à regra. Já há algumas horas buscava uma inconsciência que não vinha. Leu até queimar os olhos, fechou-os até sentir o som da chuva preenchendo todo o seu corpo. Mas nem mesmo essa melodia suave lhe serviu de sonífero.
O sino da igreja bateu três, bateu quatro, bateu cinco horas, e ela continuava ali - ouvindo o sino, a chuva fraca, o galo, os ponteiros em ritmo constantes do relógio, o sino, a chuva, as árvores balançando, as camas rangendo, o sino, os atrito dos lençóis, a chuva, o lápis arranhando de modo agradável com seus ruídos sobre o papel, o sino, os estalos da geladeira, a chuva, o sino, a chuva, os ponteiros... Porque agora pouco importava o sono: o sol já ia nascer.
SHHH...
TIC TIC TIC...
BLÉM!
(31/12/2011; 5h 26min)
(Bem infantil e título improvisado apenas para não ficar em branco.)

dimanche 8 janvier 2012

... e tem coisa que não sei se fui eu
que pensei, se fui eu que falei, ou se fui
eu que ouvi...

- MONTE, Ronaldo. Memória do Fogo, pág. 52 -