samedi 29 octobre 2011

BrainWashing

Ah... Havia mesmo razão para tudo aquilo? Precisar saber, ser obrigado a compreender, buscar o conhecimento pelo conhecimento sem, é claro, se esquecer de que tem de ser melhor. E, não apenas melhor, o melhor. Tudo isso para você chegar na frente, para você se destacar, para você sobreviver, para você, você, sempre VOCÊ! Nem adianta tentar fugir porque não há escapatória. Tudo se faz com a intenção de elevar-se sobre outros. Mas não espere, porque não explicarão o perigo do não saber, o lado ruim da - como diz Nietzsche - barbárie. As pessoas desenvolveram um certo medo da ignorância, um preconceito. E eu fico buscando entender onde está o pecado desta vez.
Quem definiu que todos devem ter toda essa ânsia pelo conhecimento? A quem foi dado o direito de escolher de que cada um gostará ou definir seus objetivos? Na boa, sabe o por quê desse silêncio? Porque todos já sabem da resposta: Ninguém. Mas cada era pede uma medida padrão para se poder comparar, uma moeda de troca. Não há quem valha qualquer mixaria, portanto vão tentando disfarçar isso por tras de conceitos sem sentido. Cada época adota uma máscara, uma maquiagem própria e, hoje você vale pelo que sabe. Ah, sim: na verdade, você vale pela quantidade de papéis que provam que você sabe. (Porque, obviamente, já há alguns séculos a palavra deixou de valer qualquer coisa. O que não é grande surpresa num contexto em que a honra já deixou de contar.)
Então, do nada, começavam a surgir umas questõezinhas bobas. Coisinhas. Pura lógica, entende? Pois, pensando bem, um coração não bate melhor depois de você descobrir a diferença fundamental entre artérias e veias. Tampouco ser capaz de dividir axônios, cápsulas de Schwann e corpos celulares acelera o pensamento. Nada dessas coisas adiantam muito, mas esperam que você acredite no contrário. Só que, nesse oceano didático, saber disso te afoga. Cada vez que se chega à superfície para tomar folêgo, é-se recebido com lufadas violentas de perguntas como essas. De todas essas obrigações inventadas, qual parte é responsável pelo bem-estar? Nenhuma. Ne-nhu-ma. Não passam de itens incoerentes, insensíveis e desconexos. Admitamos que, no fundo, no fundo, as vidas continuam as mesmas, e todas essas informações - exponencialmente mais numerosas a cada ano - dissipam-se quase instantaneamente. Ou seja: além de tudo, o sistema é infrutífero. Justificam-se dizendo que "vão cobrar", polemizam com essa de que "lá fora", "os outros"... vocês sabem da ladainha. São todos "metaeducadores", vivendo de fazer com que aprendam o que só serve para se ensinar. Vão-nos afastando da prática. Da vivência. Da experimentação. Que são o que realmente vale.
Enquanto não decidirmos por nós mesmos as nossas prioridades, vão insistindo em outorgá-las, dando continuidade ao estado onde pessoas morrendo diariamente são um problema a ser resolvido depois de você aprender que seu cachorro é na verdade um Canis lupus familiares - com atenção às maiúsculas e minúsculas, por favor. Essa situação covarde em que você disserta sobre a guerra mas é reprimido se pedir que tragam os soldados de volta para casa e deixem de fazê-los sacrifício para a causa de outrem.
As coisas começaram a se inverter, e perdeu-se a noção do que é realmente importante. Mas Newton não tornou a queda das bombas menos mortal ao definir a gravidade, entender de digestão e ATPs não sacia a fome, e diplomas não atestam que capacidade de viver. Dá pra perceber aonde quero chegar? A humanidade insiste no erro, e cada geração leva a próxima a crer que esse é o modo certo e óbvio de levar a vida. Falam da "maquinização do mundo" e de como se tem vivido mal. Vão acusando ao próprio mal que criaram sem mostrar como combatê-lo e, não importando a ideologia, na "hora H", as reações são sempre iguais.
Ao redor tudo são belos discursos: cultos, apaixonados, encorajadores. Esses que se auto-proclamam experientes acabam sempre por jogar a responsabilidade nos que estão chegando com Oh, sim, vocês são o futuro. No entanto, é fácil incitar à batalha aqueles que tem as mãos atadas. Pior: esses mesmos os atam as mãos. Hipócritas. Todos eles. Todos vocês. Dizem coisas chocantes demais na esperança de provar a todos que o mundo está no fim, como se realmente se importassem. Enchem a boca e estufam o peito enquanto ficam sentados. Esperando que alguém faça algo e que os campos de batalha se fendam e engulam as armas para que se tornem flores; esperando que as mesas miseráveis se encham num passe de mágica e que a violência decida tirar um cochilo por si mesma. Esperando que alguém realmente perceba que estamos, não caminhando, mas correndo para a destruição, e que nosso caminho há muito perdeu de vista a Ilha Perdida da Felicidade.
Há coisas de mais a serem aprendidas, e objetivos de menos sendo criados. Os homens já não sabem que rumo dar aos seus passos. Meios demais, metas de menos. Ficam todos por lá, confortáveis, aguardando uma solução rápida para tudo e culpando outros. Sem perceber que eles são os outros. Sem se dar conta de que nós somos eles.

mercredi 12 octobre 2011

Terra do Nunca


"Eu fui matando os meus herois..."

Cresci escolhendo ídolos. Tranformando cada um ao meu redor, um a um, em rainhas calmas, porém sábias, em cavaleiros armados, em nobres samurais, em justiceiros que jamais abandonavam seu orgulho, em donzelas de coração e mente simultaneamente fortes e ternos. Eram meus exemplos, meus objetivos, meus herois. Eram os meus Caçadores de Dragões!
Mais do que figuras, cada pessoa dessa era aquilo que eu tirava de meus mergulhos literários e trazia à tona quando voltava para tomar fôlego. Tornei-as em minha realidadezinha particular. Frágil e inocente. Incontivelmente encantadora.
De repente deu-se um nó em meu estômago, meus pulmões doeram, dei um impulso forte demais para a superfície. Recebi aquela explosão de ar puro. Real demais, a ponto de embriagar. Eu cresci. Abri olhos e ouvidos. Eu abri minha mente e me permiti ver o que havia de verdadeiro naquilo que criara para mim. O chão tremeu sob meus pés, as estalactites nas grutas se desprendendo e uma nuvem de poeira cobrindo tudo. Minhas donzelas determinadas caíram e rainhas imponentes perderam a compostura. Meus cavaleiros sangraram por trás de suas armaduras. Meus samurais perderam a honra e meus justiceiros deram as costas à impunidade.
E eu os vi. Todos. Desmoronados. Dissolvidos. Derrotados.
Eu os vi desistir. Os meus exemplos. Os meus herois.
Eu suportava vê-los feridos, eu aceitava suas lágrimas. Há inimigos mesmo fortes - eu sei. Serpentes e Dragões. Feiticeiros e falsos reis. Mas meus ídolos de tinta não abandonavam seu orgulho, não desistiam do que amavam, pelo contrário, defendiam-no até a morte. E mesmo quando abandonavam a batalha, eram nobres e altivos.
O que eu não suportava era vê-los mentirosos. Era lutarem do lado errado do campo. Era combaterem a si mesmos. Isso são os vilões: os hipócritas sem princípios. Os desvirtuosos e indignos. Os sem honra. Isso não era para os herois... Não para os meus.
Então, aos poucos, eles foram borrando. Eu os enxerguei cruamente. Sem armas. Sem fogo. Sem vestidos longos e coroas. Sem brasões e estandartes. Sem promessas de retorno ou palavras honradas. Sem cabelos brilhantes e diamantes nos olhos.
Eles eram... apenas... eram. Humanos.
Erro deles? Não. Errou meu? Não sei.
Crescer talvez seja isso... Tirar a paixão das coisas, as máscaras e o deslumbre. É perder a paixão. E também perder as coisas. É retirar as estacas dos vampiros e cravá-las nos caçadores. Crescer é desacreditar. Nos heróis - sempre incorruptíveis. E nos homens - nunca tão íntegros assim...
Sempre vítimas. Sempre vilões.
Crescer é nunca mais voar no dorso das águias. É não voltar a ver dragões...

samedi 1 octobre 2011

Intocáveis


É que existem coisas incrivelmente impecáveis, como se houvessem sido planejadas por anos. Coisas tão certas cmo se já tivesse de acontecer desde sempre. Coisas tão naturais que você nem ousa questionar. Coisas assustadoramente perfeitas.
E tais coisas dão medo, elas assustam e o fazem gelar à sua mera lembrança. Você olha de longe e consegue vê-las claramente isoladas do resto - sem a necessidade de barreiras físicas. Pode se sentir o calor emanando dali. Algo tão simples e óbvio que fascina. E há aquele brilho, um brilho com tom de entardecer e saudade, que ofusca mesmo quem observa de longe.
Sagrado.
Não se aproxime, nem toque. Não olhe e não faça barulho. Passa rápido - antes que o vejam! E jamais, jamais, interfira.
É preferível recuar um passo, para que a luz não o alcance. Para não ferir aquela beleza tão delicada e leve. Mas tão firme e imponente. Tão completa que qualquer coisa que se aproxime se torna excesso. Peso. Incômodo. Tão completo que o faz estremecer.
Dê um passo para trás. Dê mais outro.
Silêncio.
Vire as costas. Vá embora.

E não olhe para trás.