samedi 27 août 2011

Ponto Fraco

Geralmente as pessoas evitam essas situações. Elas temem. Já pensou no estranho de todo esse medo? Elas sempre chegam de local e companhia marcados. Sem surpresas. Sem expectativas. Sem imprevistos. Como se qualquer coisa pudesse acontecer por essa simples falta.
Ela não deixa espaço para evasivas. Simples assim. Entendeu? Não, não entendeu. Você foge dela como o diabo da cruz. Acalme-se, ela não mata. E também... com o tempo você se acostuma. Acha que não? É claro que acha. Você mal suporta se olhar no espelho, você nem conhece o som da própria voz, duvido que sobreviveria a instantes de completo abandono. Aprenda que os problemas não diminuem por haver alguém ao seu lado. Na verdade, nem o seu medo diminui. Não venha dizer que é mais fácil 'dividir o peso' - elas não carregam seus fardos para você. As pessoas só o fazem esquecê-lo, ignorar tudo o que pode fugir aos seus planos. Então ele se esconde num cantinho qualquer de sua mente, cantinho este que nem você sabe onde fica. Aliás, quais lugares de sua mente você conhece? Poucos. Ou nenhum, suponho eu.
O medo da solidão. Sempre, não... Por quê? Algo vai dar errado? Não. As chances são as mesmas. Você não percebe? Covarde. Covarde sim. Mil vezes covarde. Você tenta se convencer de que há alguém que o salve, que passe por isso por você. Mesmo que o fardo continue sendo seu. Porque ele continua, não importa que não seja o que você sinta. De qualquer forma, ainda é mais fácil - ou menos doloroso, na verdade - se souber que, caindo, um sorriso o acolherá, e fará da sua queda uma piada, uma bobagem. Da sua ferida, uma vitória. Da sua dor, um acontecimento. Você se sentirá protegido, confortado e querido. Importante. Não, você não acreditará nisso, nem por um segundo. Mas quem disse que você se preocupa? Você provavelmente já cresceu o suficiente e aprendeu com seus humanos que só são reais as coisas que o confortam. Não foi? Não diga que não. Não minta para mim. Não minta para si mesmo. Você já aprendeu a ignorar o que o incomoda, e digerir só o que desejar...
Tudo bem, eu também já aprendi o suficiente de vocês.
Não importa a falsidade dessas cenas todas.
O coração humano não precisa de sinceridade.
Só precisa acreditar no amor.

dimanche 14 août 2011

Outra Noite de Apagão

Sinos tocaram. Cães latiram distantes. Daqui posso ver o Cruzeiro. Apago a luz. Para enxergar melhor.
Eu fecho os olhos, e a cada vez que os abro mais estrelas surgem para me saudar. Pouco a pouco elas vão ficando mais brilhantes, mas ainda tão pequenas... O céu de hoje está tão pálido. Claro, muito claro, e de um azul opaco. Na verdade, nem mesmo sei se é azul. Senti falta daquele escuro profundo, aquele abismo misterioso e encantado que nos puxava para cima. O céu de hoje está raso e transparente.
Com o tempo minha vista se embaça e perde o foco. Eu vejo as estrelas de longe, mas já não posso fixá-las. É como se fugissem. Hoje elas não estão imponentemente belas como devem ser. Estão tímidas. Inseguras. Nada confiantes... Olhando-as, pela primeira vez me pergunto se cairiam, e me pergunto como conseguem se sustentar nessa abóbada. Elas oscilam e eu começo a temer que elas possam despencar a qualquer momento.
Eu desejei tocá-las para saber se eram reais. Pegá-las na queda, protegê-las, enchê-las de cuidados e afastá-las do que quer que as esteja colocando medo e receio. E então eu quis jogar um véu sobre o céu para que se sentissem seguras dos olhares fúteis e das poesias superficiais.
Quis trazê-las para casa. Cuidar delas. Quis pintar o céu de tristeza, saudade e paixão. Quis encontrar a lua afugentada e pegar-lhe pela mão. Polí-la e dar-lhe o brilho dos diamantes, o frescor da brisa que antecede o amanhecer e a tranquilidade do mar sem ondas.
Mas às estrelas, meus bebês, eu dispensaria os maiores cuidados. Eu as esperaria crescer de novo até que voltassem a voar para poder se erguer no espaço, ocupando o lugar que é delas por direito. Eu cuidaria para que novamente trouxessem com elas a luz que consola, o frio que acalma as almas, a beleza que fascina os corações...
Então, e só então, eu pediria às luzes que se apagassem de novo para que eu pudesse contemplar o espaço em seus completos esplendor e majestade. Deixaria que a brisa fria da noite levasse meus lamentos, ensinaria meus olhos a de novo brilharem como as estrelas e faria da umidade neles a libertação de meus medos e receios, enquanto meus pulmões se alimentariam profundamente de tranqulidade.
E me sentiria livre e tranquila.
E eu poderia voar.
E elas me levariam pela mão.