lundi 25 octobre 2010

Criatura de Homens*


Analisando a essência humana, o ego é soberano. Pouco se comove com o mal ocorrido a outrem, ou cuja ocorrência é talvez pouco provável. A verdade é egocêntrica: cada um por si e todos por nada. A população não desenvolveu seu caráter socialmente, é o instinto que ainda vigora. Pouco interessa o ladrão, desde que o poder e a privacidade de cada um permaneçam intocados.

O homem não se trata como indivíduo pensante, ainda espera a aceitação do absurdo em suas atitudes, alegando ser esta a sua natureza. Assim, recorremos ao nosso lado animal para justificar nossas misérias. E o Governo é o retrato perfeito disso: uma instituição de homens onde se demonstra toda a falta de escrúpulos humana. Todo esse processo tem início no momento do voto. As escolhas mais importantes são feitas baseando-se em interesses e vantagens próprios e não na comunidade. Esse é o pensamento lógico e instintivo, mas se torna cruel pelo conhecimento de que sua escolha resultará em prejuízo para os outros. Dessa forma, a base política da sociedade rui.
Ao desmoronar do prédio todo, dedos são apontados em todas as direções, mesmo que, intimamente, saiba-se que apontam para um espelho. Mas as criações são reflexos de seus criadores, e o povo se nega a enxergar essa verdade. Julgam-se inocentes e fazem-se de ingênuos, recusando-se a agir ou a tomar decisões. Decidem que a culpa é de todos, e logo não devem colaborar. Cruzam os braços e esperam.
Dessa forma, a solução do problemna não é enjaular os culpados, pois culpados são todos. Se as criações são reflexos de seus criadores, cabe à nós preparar melhor esses criadores, e não caluniar as criações, que são apenas o que foram criadas para ser.

*(Renomeado. Antes: FRANKENSTEIN)

mercredi 13 octobre 2010

Desilusão

Por muito tempo você esteve distante dessa porta, certo de que nada ameaçaria aquilo que ela guardava. Por muito tempo você adiou suas visitas àquele comodozinho por coisas não tão importantes, e repetia a si mesmo que seu tesouro estaria seguro. Mas agora um tremor te percorre o corpo. Algo atrás dessa porta está errado e não pode mais esperar. Algo que talvez já tenha esperado demais.
Você pode ouvir as batidas do seu coração acelerarem ao toque gelado da maçaneta. Com um ruído a porta se abre, você inspira o conhecido aroma doce e por um momento acredita que nada mudou, foi tudo paranóia sua. O grande globo de vidro reluzente está bem no centro, sobre um pedestal esculpido em gesso. Um feixe de luz desce diretamente do teto sobre ele. O resto do cômodo, escuro e vazio, como sempre esteve.
E então você vê. A luz não emite os reflexos confusos, e não há aqueles brilhos coloridos dentro do vidro. Para onde foram? Mas q..? Você chega perto e repara na fina rachadura que riscava o vidro. Dentro deste: nem uma gota. Algo torce seu estômago e um nó sobe para a sua garganta que não te deixa respirar. Você não entende como isso pôde acontecer. Seu olhar desce pela linha fina e úmida no pedestal até alcançar o chão. Seco. Não!! Como? Sinto muito, pelo visto já faz um tempo.
Mas uma luzinha se acende em você, que acaba de reparar nas pequenas poças aqui e ali. Há apenas um modo de recuperar o pouco que resta. Você corre para fora e volta com panos que espalha pelo chão, cobrindo cada canto, para que alguma coisa se salve. Quando acaba, censura-se por ter esquecido os baldes, e sai correndo, novamente.
Enquanto respira fundo e tenta se concentrar, pode sentir seu sangue pulsando. Você tenta descobrir algum otimismo ou esperança no meio do seu desespero. É hora de ver o que sobrou, mas você hesita. Você não pode viver sem isso. Não há um sentido em viver se você perdê-lo...
Quando o trabalho acabou, você mergulhou o rosto nas mãos e chorou. Chorou como um bebê. Intensa e inconsolavelmente.
Porque você torceu os panos, mas estavam todos secos. Completamente secos.
Porque nem uma gota restou.

vendredi 1 octobre 2010

Tempo


Recordar, do latim RE - CORDIS: Voltar a passar pelo coração.

     A cada dia que passa envelhecemos mais. A cada minuto algo já ficou para trás. Cada suspiro nos deixa mais próximos de um fim que não temos idéia de quando virá. Mas não era sobre isso que eu queria falar...
     O que realmente fere, é termos que perder de vista aquilo que somos, para perceber que devíamos ter continuado ali. É só quando o tempo há muito nos afastou de um momento que percebemos o quanto ele era especial. E é sobre isso que escrevo hoje.
     Há dez anos eu nem me passaria pela cabeça o que digo agora; daqui a outros dez, vou perceber como tudo isso é desnecessário e incompleto. Mas ainda assim o direi. Apesar de clichê, nada mais correto que aquela frase que ouvíamos dos adultos quando brigávamos com um "coleguinha" ou quando nos achávamos super-heróis por desenharmos uma casinha com montanhas ao fundo e um pôr-do-sol: Que época boa! Vocês vão sentir falta disso... E a gente sente. Mas não no sentido de querer voltar, a gente lembra, a gente pensa, e fica sonhando acordado, será que naquela época eu esperava me tornar o que sou hoje?
       Com certeza não.
      Naquela época o futuro não existia. Ia chegar quando fosse a hora dele... Na verdade, o futuro ainda não existe. E talvez fosse melhor pararmos de pensar nele, como sabiamente fazíamos há dez anos.

     Ah.. a inocência! Aquela ingenuidade era impagável! A alegria de ganhar uma boneca nova, a tristeza de perder um lápis de cor. Aquele brilho nos olhos que nos denunciava os pensamentos, por mais que fingíssemos não haver nada nos incomodando. Mas o melhor de tudo eram os laços... Na época em que nem nos importávamos com os novos modelos de celulares e nem sonhávamos com tantas redes sociais, na época em que não havia
eu te amo's em todos os lugares e em que não líamos frases bonitas... Naquela época inesquecível, as palavras eram desnecessárias; nós estávamos todos juntos e era isso o que importava. O eu te amo estava em cada gesto, em cada briga, em cada roda, em cada lágrima.
         O eu te amo não existia. E nem precisava.
         A gente sentia. E só.
      Há dez anos, a gente não pensava no fim de nada. Por que nos diziam tanto para aproveitar? Há dez anos nós éramos imortais. Eternas crianças. Não havia razão para termos medo de um dia ir embora, a gente estaria junto todos os dias, não é verdade? Não era... Mas e daí?
         Há dez anos, não existia tempo. E é por isso que era tão lindo...

......................
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
Que o vento não conseguiu levar:
Um estribilho antigo
Um carinho no momento preciso
O folhear de um livro de poemas
O cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mário Quintana

Deixo aqui uma homenagem para uma pessoa mais que especial. Para essa prima-irmã de todos os dias, de todas as épocas. Para aquela que há muito me deixou uma cicatriz no rosto e que me fez chorar (e muito!). Para aquela que hoje só me faz rir, só me traz alegrias e momentos bons... E me mostra que por pior que o mundo seja, sempre haverá uma canção... tocando em algum lugar.
Para a minha prima Mariana, deixo um super Feliz Aniversário. E desejo que o tempo nunca apague a sua alegria e que não torne seu coração amargo. Desejo que o tempo não te transforme em sua essência, e que você seja sempre assim, exatamente como é!
(promete que não achou dramático? rs) Eu te amo, de verdade.